Fazer o melhor impossível

Escolhi este título, pelas impossibilidades a que nos impomos algumas vezes – sem nos darmos conta dessa situação. Até onde pode aguentar um ser humano? Até onde lhe é possível. Todos nós temos um limite do que e quanto podemos suportar, física e metafisicamente falando. Cada um tem sua própria “cruz” a carregar, mas comparações entre uma pessoa e outra - levando apenas isso em consideração -, são absurdas, porque assim como diferem as “cruzes” em peso e tamanho, diferem também em força os ombros que as carregam.

As pessoas cobram constantemente e desmedidamente, a si mesmas e a outras pessoas, sem parar pra pensar nos pormenores. Porque o importante é agir e ter sempre mais, seja do que for. A condição humana de certo modo parece que se resume a uma incontrolável, sádica e constante competição – mesmo que seja uma competição contra si mesmo, uma autoflagelação. Eu penso o quanto esse excesso de cobrança pode ser prejudicial. Precisamos ter metas, objetivos, e fazer o possível para alcançá-los. Mas o “possível” para uma pessoa não é necessariamente o “possível” para outra. A verdade é que sempre haverá alguém melhor ou mais forte – e isso é algo bastante difícil para uma pessoa orgulhosa admitir -, o que parece exceção a essa afirmação é marketing.

Lembro-me de um trecho de “os sofrimentos do jovem Werther” de Joahan Wolfgang Von Goethe, em que Werther discute com Alberto sobre o suicídio. Alberto diz que é uma fraqueza, porque é muito mais fácil acabar com a vida do que suportá-la. O argumento já começa falho, pois levando em consideração o que afirmei anteriormente, há “vidas” e “vidas”. Werther rebate comparando o desespero do suicídio a uma doença mortal, que ataca, ao invés do corpo, o espírito. E que condenar uma pessoa por sucumbir a uma doença que seu corpo não pode suportar é uma idéia absurda, e assim também o é com o espírito. Mas o ponto para o qual quero chamar atenção aqui não é o suicídio, é o limite.

As pessoas se culpam – e a outras pessoas também – por não conseguirem determinado bem – material ou não. Culpam-se por dizerem algo que acham que não deveriam ter dito. Culpam-se por fazerem algo que acham que não deveriam ter feito. Condenam a si e a outros constantemente. O que realmente deveria importar é se você fez tudo o que lhe foi possível fazer, para determinada situação em determinado momento. Como você pode condenar alguém por não fazer algo que não lhe era possível fazer? Eu comparo esta situação a um balde sendo cheio de água – acho que muitas vezes essas analogias são disparates, como costuma acontecer bastante em alguns “provérbios chineses”, mas neste caso acho que a analogia funciona bem -, em um certo momento esse balde vai transbordar, e você vai culpar o balde por não suportar toda a água que foi jogada sobre ele? O balde suportou o quanto lhe foi possível.

O importante é fazer o melhor que se pode fazer. Nessa questão, o melhor torna-se um tanto subjetivo, porque depende de fatores como noção de certo e errado, moral, ética, etc.. Mas VOCÊ sabe – ou deveria começar a perceber – que faz o melhor que pode. Quem perde pelo simples prazer de perder? O melhor que podemos fazer nem sempre é o melhor que achamos que poderia ser feito, mas é sensato lamentar-se por isso? E como saber o que é possível? Bom, isso me lembra La Place, Newton e Hawking. E fica para outro texto, sobre possibilidades.

Fazer o que se considera correto, sem culpa, e não conflitando seus ideais e interesses, acho um bom modo de se fazer o melhor possível. Seu balde transbordou? É a natureza das coisas. Aceite o que for inevitável, e faça o melhor que lhe for possível fazer.