AS MAIS BELAS CANÇÕES

Alguém disse que as canções estão morrendo. De fato, as rádios não dão mais tanto espaço para as canções de amor: o ritmo, a batida, o swing estão acima de qualquer coisa parecida com harmonia. Quando algum artista grava uma canção, quase sempre é cover de alguma música consagrada.
Gosto de canções, de baladas. Sou fã de Leonard Cohen, que, para muitos, é um terrível soporífero ou um convite ao suicídio. Gosto das canções de Chico Buarque. A canção exige cumplicidade de quem a ouve: é preciso aguçar os ouvidos para a poesia que o compositor quer mostrar. Na música dançante, tipo axé, pancadão, calipso (o brega paraense) e forró eletrônico, o importante é a dança e o erotismo. É uma música para não pensar.
A canção, não. Se não tiver uma boa melodia, se o cantor não souber colocar a voz, se a letra não atingir algum espaço incógnito de nosso espírito, a canção não funciona.
Mas, fazer o quê? Vivemos na era do não-pensar. As informações são tantas, a velocidade é tamanha, os valores são tão relativos: as pessoas não sabem mais como e quando parar, e a canção exige isso! Parar, abrir os poros do espírito e ouvir. E ouvir além do que os sons expressam.
Sempre gostei de fazer listas. Decidi fazer mais uma. Dez belas canções. Dez canções que mexem em algum recanto escondido de meu espírito. Aliás, farei duas listas: uma nacional; outra, estrangeira.
E se quiser, faça a sua...
Nacionais:
1. Valsa brasileira, de Chico Buarque. Uma poesia que eu gostaria de ser o autor.
2. Preciso aprender a só ser, de Gilberto Gil. Um chamado à espiritualidade. Apropriada para os tempos secos de hoje.
3. Beatriz, de Chico Buarque e Edu Lobo. Na voz de Milton Nascimento, é a certeza da existência de Deus.
4. Chuvas de verão, na voz de Caetano Veloso. Suprema dor de cotovelo.
5. Vento no litoral, de Renato Russo. Se o Legião Urbana tivesse só essa música, ainda assim seria um grande grupo!
6. Motriz, de Caetano Veloso. Na voz de Maria Bethania, é outra comprovação da existência de Deus.
7. As rosas não falam, de Cartola. Quando a mídia tenta me empurrar Tati Quebra-Barraco como o som autêntico do morro, da favela, eu me recordo dos mestres do samba. Cartola fez poesia superior, de imensa qualidade.
8. Juízo final, de Nelson Cavaquinho. Idem.
9. Lígia, de Tom Jobim. O maestro brasileiro não poderia ficar de fora.
10. Tarde, de Milton Nascimento. "Não peço mais perdão, porque já sofri demais!"

Internacionais:
1. The long and winding road, The Beatles. O arranjo de Phil Spector, mesmo execrado por Paul McCartney, é maravilhoso!
2. God only knows, The Beach Boys. Deus existe mesmo!
3. Never my love, The Fifth Dimension. Tudo pode acabar, menos o meu amor por ti. Meloso, mas muito bem feito!
4. (They long to be) close to you, do mestre Burt Bacharach. Na voz dos Carpenters, é divina!
5. Aubrey, Bread. Soft-rock triste, mas terno...
6. Thank you, Led Zeppelin. Apesar do peso, a banda fazia umas coisas muito emocionantes às vezes.
7. Time, The Alan Parsons Project. Uma canção sobre a amizade que permanece, apesar do tempo.
8. I don't owe you anything, The Smiths. Um quê de ironia cabe na canção.
9. All join hands, Slade. Canção com o peso do rock. Evoca um passado no qual éramos mais felizes.
10. Free bird, Lynyrd Skynyrd. Começa como canção e se torna batalha de guitarras. Emocionante!

Posso ter esquecido alguma... Se for fazer uma lista amanhã, com certeza, será diferente dessa. Mas vale a pena recordar.
Por que deixei Last year's man, de Leonard Cohen, de fora?