Pé de Dinheiro

Em frente à minha casa tem um pé de dinheiro. Fui eu mesmo quem plantei, reguei e vi crescer. Já faz alguns anos. Data da minha chegada naquela rua e naquela casa. A muda foi minha mãe quem arranjou. Não me perguntem onde foi que ela conseguiu. Quando recebi, nem eu sabia do que se tratava. Eu só queria uma muda de planta que desse sombra.

Plantei do lado de fora na calçada, logo em frente. É uma árvore frondosa, robusta e que dá uma bela sombra o ano inteiro, além de dar dinheiro, é claro! A época da safra é muito variável, mas é quase certa a cada semestre e, a colheita, trabalhosa! É provável que vocês estejam se perguntando: árvore que dá dinheiro? Como é que eu nunca ouvi falar numa planta dessas? E, se ela dá dinheiro, por que esse cidadão resolveu plantar logo do lado de fora da casa? Ela não era para estar protegida como se proteje a galinha dos ovos de ouro? Será que ela é daquelas plantas que pega de galho?

O mais interessante disso tudo é que não sou eu quem usufrui dessas benesses concedidas pela natureza e, no caso, semeada por mim mesmo. O grande beneficiário é um sujeito que atende pelo nome de João. De uma natureza completamente amigável, ele é o podador de árvores do meu quarteirão e dos quarteirões vizinhos. O que tem em anos já vividos, um pouco mais de 60, sobra-lhe em disposição para o trabalho. É daqueles trabalhadores que a gente pode afirmar “é pau pra toda obra”!

Seu João reflete toda uma vitalidade na sua postura e na sua forma de andar. Ele caminha pelas ruas com aquele ar altivo de quem é o senhor do seu próprio destino. Sua conduta nos passa aquela sensação de que as oportunidades estão por aí em cada esquina, à espera de quem tropece, esbarre, descubra e veja. Para ele, nunca lhe faltarão oportunidades para ganhar a vida. Apesar da idade para uma tarefa tão árdua que resolveu encarar, ele é o tipo do sujeito que quando olha para uma árvore na calçada não vê só folhagem. Vê algumas cédulas de 10 ou de 20 balançando ao vento, dependendo do tamanho da copa. Costumo dizer que seu João é uma criatura que vê dinheiro em árvore!

Pode ser que você não tenha um “seu João” por perto, mas é quase certo que você tenha uma planta dessas (ou mais de uma) em sua calçada ou em sua rua. O seu bairro deve estar cheio. De repente, você passa todos os dias por elas e não consegue ver as cédulas maduras ali dependuradas. Na próxima vez, passe com calma, pare, olhe e veja. Certamente, assim como no meu caso, não será você quem vai colhê-las. Elas estão ali à espera de um alguém que desempenhe esse ofício. O seu benefício maior será apenas de ter uma planta bem cuidada e que lhe encha os olhos de satisfação pela arquitetura de seu podador.

Mano Kleber
Enviado por Mano Kleber em 28/06/2011
Reeditado em 26/10/2012
Código do texto: T3061975
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