Sonho com prazo de validade

A gente está careca de saber que sonhar ainda é uma das poucas atividades inerentes ao ser humano sobre a qual não incidem impostos ou qualquer lei de cerceamento de liberdade. Hoje em dia existe tarifa pra tudo e mais alguma coisa. Considerando o andar e a velocidade da carruagem, não parecerá estranho viver em um mundo em que o próprio ar que se respira será comercializado aos tubos feito água mineral. É inevitável. Por tudo que se faz ou se precisa, paga-se um preço, mesmo que sejam apenas alguns trocados.

Por outro lado, quando se trata de sonhos, o enredo é diferente. Não acredito que, nem mesmo em um futuro muito distante, um dia eles (os sonhos) possam vir a ser encontrados em locadoras assim como vídeos. Já imaginou?! Você chega pra moça do balcão da locadora e diz: “Por, favor, me veja aí um sonho bem dramático ou um romântico ou um daqueles cheio de suspense?!”. Simplesmente, não rola! Sonho é sonho! É que nem voto: é pessoal e intransferível!

Dormindo ou acordado, sonhar é permitido e recomendado. Ainda que Freud não explique os devaneios que temos e, ainda que alguns deles não nos façam o menor sentido, sonhar ainda vale como um belo descarrego. Funciona como um fio de terra. Sonhar é quase que uma prescrição médica para certos males do espírito, nem que seja para que se desfrute de um algum equilíbrio emocional ou psicológico. Neste caso, bem que podíamos desejar àquela amiga que anoiteceu com uma enxaqueca: “melhoras... e bons sonhos, viu?!”.

Deixando de lado os sonhos “sonhados” e os que são vendidos nas padarias, sonho é um legítimo produto gratuito e que pode ser produzido aos montes, voluntariamente, sem nenhum custo, sem nenhum esforço e com alguns benefícios. Pode-se dizer, com uma boa margem de segurança, que os sonhos “acordados”, assim como os desejos, são as molas-mestras deste mundo. A bem da verdade, fica difícil dissociar esse tipo de sonho de um desejo pessoal. Sonho e desejo são amigos de infância e que andam de mãos dadas.

Colocar a cabeça nas nuvens é, especialmente, divertido! É quando nos permitimos ser o que queremos ser. É quando nos permitimos fazer o que queremos fazer! Nos transportamos para uma dimensão onde tudo é possível! Walt Disney traduziu isso tudo de forma singular quando disse: "Se é possível imaginar, é possível realizar." E fez o que fez.

O problema é que sonho, quando se quer traduzir para a linguagem do desejo, torna-se um produto perecível, com data de validade. Se não se transformar em realidade dentro do prazo previsto... perde o encanto, volatiza-se, vira abóbora, estraga-se, azeda, aprodece. Tudo bem que, se você sonha voar de asa delta ou pular de para-quedas, ainda possa fazer esse tipo de traquinagem na melhor idade. Entretanto, atividades como futebol, balé e desfilar como modelo em uma passarela (apenas para citar algumas com data de expiração marcada), seriam melhor realizadas dentro de uma faixa etária (pré)estabelecida.

No fim de tudo, existe um tempo para se começar e um tempo para dar adeus ao que não se começou. Portanto, antes de deitar a cabeça nas nuvens, não esqueça de verificar se os seus pés estão bem atados ao chão. Só então, comece a sonhar! E, suspeito que a melhor forma de conservar o que se constroi durante esses voos da imaginação é transportando o possível para a realidade, tirando os sonhos do papel, eternizando-os. Caso contrário, tudo evapora no tempo que, assim como uma maresia, corroi até mesmo o intangível.

Mano Kleber
Enviado por Mano Kleber em 28/06/2011
Reeditado em 26/10/2012
Código do texto: T3062015
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