Oração pelos mineiros

Ontem, acordei no meio da noite. As janelas e as cortinas do meu quarto estavam fechadas e fazia um calor daqueles que incomoda. O suor escorria pelo rosto, mas tinha opção... ou opções. Podia me levantar, abrir as janelas ou ligar um ventilador aos pés da cama e voltar pra debaixo das cobertas. Podia até mesmo tomar um banho.

Estava tudo ao meu alcance. Imediatamente, lembrei de um e-mail que recebi de uma amiga minha no dia anterior. O texto fazia referência aos mineiros chilenos que haviam sido soterrados dentro de um túnel a 700 metros de profundidade. Na verdade, o e-mail tratava de um pedido de oração pela vida dos 33 homens que se encontravam quase que completamente isolados do mundo, não fosse a sonda de comunicação que os mantinha em contato com a superfície.

Fiquei um bom tempo pensando nas condições adversas que o destino preparou pra essa gente que trabalha nas profundezas da terra. Confinados em um espaço físico limitado, a uma temperatura superior a 33 graus, em plena escuridão, sem noção do que é dia e do que é noite, sem a alimentação adequada para o corpo e para o espírito, longe de tudo e de todos, longe do conforto que tinham em suas casas e do aconchego de suas famílias, em condições precárias de higiene... em situações como essa, suponho que o tempo se arraste. Certamente, perde-se a noção de segundos, minutos, horas e dias.

Fiquei pensando no psicológico dessas pessoas. É verdade que cada ser humano reage de uma forma diferente a situações diferentes. Mas, o que estaria se passando pela cabeça de cada um deles? Quais os temores, as angústias ou esperanças? O ser humano é mesmo capaz de superar todos os seus limites? É capaz de se adaptar a toda e qualquer condição? Será que eles estariam vendo ou vivendo um filme de suas vidas, de tudo o que aconteceu do passado até ali? Fiquei pensando... e foi apenas mais um momento de confirmação. O pedido de oração que recebi por e-mail era muito mais justo do que se podia imaginar. Era um pedido para que as máquinas que escavam o túnel de acesso chegassem até a eles muito antes do previsto. Para que os obstáculos encontrados fossem superados. Para que a dureza da rocha fosse desfeita. Para que a nossa fé pudesse remover as montanhas. Apesar de estar a quilômetros de distância, apesar de se tratar de pessoas que desconheço por completo a realidade, não conseguia mais deixar de pensar nessa gente. Não consigo deixar de lembrar que no universo tudo está interligado. Não conseguia mais parar de enviar pensamentos positivos para que eles suportassem as adversidades e voltassem à vida. Na escuridão do meu quarto, liguei o ventilador e fiquei pensando... o paraíso é aqui.

Nota: Esta crônica foi escrita um mês antes do resgate dos 33 mineiros chilenos e um boliviano que ficaram soterrados por 69 dias a 700 metros de profundidade em uma mina de ouro e cobre no norte do Chile. A mina de San José, no deserto do Atacama, sofreu um desabamento em 5 de agosto de 2010 e soterrou os operários.

O resgate ocorreu em 13 de outubro de 2010.

Mano Kleber
Enviado por Mano Kleber em 28/06/2011
Reeditado em 26/10/2012
Código do texto: T3062030
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