077 - CONFESSO...

Confesso que nunca fui quem realmente eu sou, sou um amontoado falsas qualidades que no decorrer da vida foram soterrando para os porões da alma a essência daquilo que realmente eu sou, a minha realidade eu carrego escondida sob a fachada deste ser brilhante que a sociedade assim quis que eu fosse...

Falsamente fui me modelando pelas circunstâncias e pelos momentos, superficialidades estampando no meu semblante na esperança vã de agradar a muitos. Das vezes eu me olho no espelho e o que vejo? Vejo alguém parecidíssimo comigo...

- Que das vezes sorri da minha falsa seriedade no meu comportar e nos meus atos...

- Que das vezes sorri da minha maldade disfarçada em bondades devidamente calculada para os olhos de tantos...

- Que das vezes sorri do meu olhar tímido e servil que esconde incontáveis ignorâncias que habitam nas profundezas do meu ser, quantas vezes me acovardei diante dos fatos, para depois do perigo passado arrotar valentias e coragens irreais.

Em certos momentos converso com esta imagem parecidíssima comigo, só parecidíssima, ela não precisa desta parafernália de sentimentos conflitantes que os momentos da vida me levam a mostrá-los para conviver com tantas pessoas tão falsas, mentirosas, arrogantes, parecidíssimas comigo e entre tais me sinto um igual, máscaras, nada mais que máscaras é o meu semblante, aprendi a fingir na conformidade da magnitude das circunstâncias...

Sempre falo mentiras e das grandes, sempre estou a vangloriar qualidades que nunca tive, se as tenho na verdade são em diminutas proporções na comparação com os meus defeitos, manias para sobreviver às vicissitudes do dia a dia, tenho o meu lado bom que recalcado está sobre esta montanha de leviandades acumuladas.

Se pudesse mostrar quem realmente eu sou, assustaria a tantos, perderia meus amigos que também são tão falsos quanto eu, perderia minhas namoradas, se minha boca pudesse dizer tudo que penso a respeito deles, das suas mediocridades, dos seus defeitos, das suas falsidades, da minha inveja das suas vitórias...

Ah! Se eu pudesse gritar em alto e bom som tudo isto, seria um exilado na terra, cão vadio escorchado por todos, se eu pudesse ser o que realmente sou, se pudesse despir de tantas máscaras a que me obriguei a usar, tal como um mendigo seria no olhar de todos assustando e afastado, se a minha face pudesse estampar a minha realidade, talvez me rotulassem por louco, anti-social, estúpido, bruto, desprovido de alma, um animal disfarçado de homem, mas será que sou assim tão diferente das outras pessoas, ou será que todos nós fingimos que somos humanos, reagimos conforme as circunstâncias, vamos nos adaptando aos papéis mais diversos que a vida nos impõe nesta universal comédia humana...

Ah! Se eu pudesse dizer não em vez do sim que quase sempre falo na obrigação de comportar como um bom moço! Se eu pudesse dizer não quando quero dizer não! Se eu pudesse protestar quando estou sorrindo para agradar quem tanto me maltrata!

Ah! Se eu pudesse ser quem realmente eu sou, talvez eu fosse feliz...

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 01/07/2011
Reeditado em 02/07/2011
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