O que você vê quando fecha os olhos?

Este ano, vivi uma experiência que poderia caracterizar como perda total ou cessação temporária de um único sentido: a visão. Em uma visita à Gruta de Ubajara, situada no município de mesmo nome em nosso Estado, meu doce e querido Ceará, um guia nos levou a conhecer as diversas salas iluminadas e acessíveis daquele sítio arqueológico.

Percorrido um trecho razoável pelo interior da caverna, o guia propôs o desligamento, por alguns segundos, da iluminação artificial que nos permitia ver as belas formações rochosas esculpidas pela natureza, bem como os caminhos possíveis de serem trilhados. Tudo para termos uma rápida ideia da tamanha escuridão à qual estiveram submetidos os nossos antepassados e outros seres animados.

Bem... a sensação inicial não era totalmente estranha. No entanto, não poder enxergar um palmo à sua frente também não é algo inteiramente comum.

Tempos depois, imaginei que, abstraindo-me do lugar em que estivesse e das condições externas vigentes, essa experiência poderia ser refeita, recriada ou reeditada, bastando para isso fechar os olhos e perguntar pra mim mesmo: o que você vê quando fecha os olhos?

Numa visão bem simplista, essa pergunta poderia ser satisfeita com uma resposta básica do tipo: simplesmente, nada! Ou, então… o mais puro breu! Alguns, num curto trocadilho poderiam concordar e dizer: “mas, é claro, já que tudo fica tão escuro!”. E se fôssemos apelar para a Física, poderíamos concluir que não se vê nada mesmo, já que a luz que impressionava a retina não impressiona mais! É como se alguém apagasse a luz de um quarto ou de uma sala e não houvesse nenhuma fresta por onde pudesse penetrar um feixe de luz sequer e refletisse nos objetos que existem no ambiente.

De outro modo, numa visão um pouco mais estendida, poderia afirmar com uma boa margem de certeza que, ao fechar os olhos, se vê muito mais ou, pelo menos, muito mais longe. Posso apostar que somos capazes de enxergar um outro mundo, um admirável mundo novo: nossa própria vida interior com algumas salas iluminadas e outras em total escuridão.

Deliberadamente, você pode experimentar entrar em sua própria caverna, onde a única lanterna que irá dispor será a sua mente pensante ou sua imaginação (esse é o tipo de acessório que dificilmente se encontra desligado, mesmo quando estamos dormindo). “Lá”, no mais recôndito de seu universo particular, você pode estar sozinho ou na presença de quem mais desejar ou queira convidar. Pode estar, inclusive, na presença de pessoas indesejáveis, algo que se espera que não aconteça. Por outro lado, você pode convidar pessoas do seu convívio diário ou distantes, amigos e pessoas queridas, como também, se sentir acompanhado dos mais variados tipos de sentimentos ou sensações: medo, raiva, solidão, saudade, paz, alegria, tristeza... A lista se estende indefinidamente em qualidade e em quantidade, dependendo das circunstâncias. Cenas de sua vida cotidiana, também, fazem parte desse cardápio.

Enquanto se está acordado e com os olhos fechados, os pensamentos iluminam as salas de sua imensa caverna interior. Você pode ver imagens, assim como pode ouvir sons, ruídos, músicas, vozes... Você pode percorrer galerias do passado, do presente ou imaginar salas que ainda não foram exploradas, num passado ou num futuro, distantes ou nem tanto. Algumas dessas salas exibem imagens amedrontadoras nas quais, vez por outra, você opta por não entrar ou, simplesmente, por fechar a porta sem olhar pra trás. Outras imagens como sombras projetadas em uma parede, apenas sugerem algo que não existe ou nunca existiu. Parta do princípio de que nossa mente fantasiosa nos leva a criar e acreditar em algo que não existe de fato.

Contamos, ainda, com aquelas salas que são verdadeiros oásis, onde a gente gostaria de estar por todo um sempre, por toda uma eternidade, com hora de chegada, mas sem hora de partida, sem pressa de sair, sem tempo pra atrapalhar. Um lugar que pode ser definido como aquele espaço que se gosta de voltar, sempre que se precisa de conforto e onde você pode exibir os seus melhores flashbacks. Trata-se de um “lá” onde quase tudo é perfeito.

Encare, até mesmo, a possibilidade de poder encontrar-se com várias versões de você mesmo. Já pensou?! Poder estar frente a frente com suas versões mais agradáveis, bem como com as mais insuportáveis?! Sim! Porque ninguém, por mais “perfeito” que se sinta, é tão perfeito quanto se imagina! Mas, certamente, em algum desvio desse labirinto em que nossa mente se transforma, existe um lugar, um ponto de encontro com o seu eu genuíno, com suas qualidades e defeitos. Uma sala de espera com telão de LED, exibindo sua imagem real e sem distorções.

Tudo isso pode durar segundos, minutos ou horas. Faça essa experiência! Da próxima vez que fechar os olhos por uns instantes, não deixe de se perguntar: o que você vê quando fecha os olhos?

Mano Kleber
Enviado por Mano Kleber em 04/07/2011
Reeditado em 26/10/2012
Código do texto: T3074766
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