SAUDADES SEM FIM.

Meu pai, policial estava destacado para prestar serviços em Maracaju/MS. Era uma tarde como outra qualquer dia 15 julho de 1968, EU com meus 15 anos de idade e muito feliz, a final estava passando as férias escolares junto dele. Não podia haver coisa melhor, nenhum presente poderia substituir o simples fato de passar alguns dias em sua companhia. 13hs vou correndo ao hotel buscar uns documentos que meu pai pedira enquanto proseava com uns ciganos, recém chegados por aquelas bandas. O hotel ficava a uns cem metros, ao entrar no quarto escutei uma seqüência de estalos que não dei muita importância, peguei os documentos e voltei correndo, do jeito que ele gostava tudo rapidinho e bem feito.

No lugar onde deixei meu pai avistei uma aglomeração de pessoas, meu coração disparou, corri mais rápido, lá estava meu pai estendido na terra vermelha. Pai o que aconteceu, perguntei-lhe? Papai esta morrendo cuide da sua mãe e de seus irmãos, respondeu-me.

Estávamos em terras estranhas, e nosso sofrimento estava apenas começando. Um dos ciganos ajudou-me a colocar meu pai em nosso carro e sai em disparada pelas ruas daquela cidade a procura de um hospital, no caminho desesperadamente perguntava o que havia acontecido, e meu pai ainda lúcido, disse-me – estou com vários tiros pelo corpo – ai eu lembrei-me das seqüências de estalos que havia ouvido lá no hotel.

Na cidade havia apenas um médico e estava no hospital, após rápido exame disse-me - seu pai esta baleado com quatro projeteis e um deles atingiu a medula, se sobreviver ficará paraplégico. Só nos dois ali e até aquele momento não sabíamos por que haviam atirado nele. Telefonei para o delegado de policia da Capital, e prometeu um avião até o final da tarde. O pequeno avião chegou e muito mal cabia eu e meu pai, mal acomodado fiz meu pé de seu travesseiro até Campo Grande. Depois de 45 dias meu querido pai deixou-me.

Hoje, 43 anos depois desse fato, ainda mergulho na saudade. Procuro não entristecer lembrando os momentos felizes que passamos juntos e o quanto eu era amado. Por tudo isso é que hoje estou procurando aproximar-me dos meus filhos. Quero usufruir de todos os momentos que puder ficar ao lado deles, quero amar e ser amado, quero ser pra eles pelo menos um pouco do que meu pai foi para mim.

Chiquinho
Enviado por Chiquinho em 15/07/2011
Reeditado em 16/07/2011
Código do texto: T3098046
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