VIDA DE INSETO


          Estava aqui, neste exato momento, fazendo um comentário sobre um poema que eu havia acabado de ler, intitulado "Menino Nu" de Zaymon Zarondy, quando senti uma coceirinha no braço direito e quando olhei para ver o que era, deparei-me com um minúsculo inseto esverdeado, que passeava, despreocupadamente, pelo meu braço, como a desbravar-me... como a desvendar-me...  
          Parou, diante de um grande obstáculo que se interpôs em seu caminho, ou seja, um fio de cabelo do meu braço. Decidi interferir e estendi-lhe o dedo indicador da minha mão esquerda e ele - não sei se por confiança ou fraqueza de espírito - prontamente subiu em meu dedo e lá permaneceu, quero crer, que olhando para mim. Não posso precisar se era isso mesmo, pois ele é tão diminuto que não posso distinguir os seus olhos. Ficamos nos estudando, por um breve instante e, de repente, ele começou a se mover, buscando o ápice do meu dedo indicador. Estacou, uma vez mais, no ponto mais alto do meu dedo e - novamente - nos observamos. A sua fragilidade me encantou e assustou, ao mesmo tempo. E foi então que eu percebi a minha grandeza, o meu poder...  
          Veio-me o pensamento de esmagá-lo entre os dedos indicador e polegar: morte instantânea, indolor...   Indolor? Como posso ser tão insensível? Fixo o olhar no seu tamanho... na sua cor... verde-clarinho... verde-esperança... verde-vida!
          Ele permanece parado, magnetizado pela força do meu olhar... mexe a diminuta antena e eu sinto um leve roçar de vida em meu dedo, como se fosse uma carícia... Uma estranha ternura se apossa de mim! Trago-o à altura dos meus olhos e nos amamos por um breve espaço de tempo...
          Ah! O poder! Quão perigoso é o poder. Sua vida , meu pequeno inseto, está em minhas mãos! Esmagar-te entre os meus dedos será uma demonstração inequívoca do poder que me assiste, neste momento. Mas... deixar que você continue vivendo a sua doce e inofensiva vida de inseto... não será uma demonstração de poder ainda maior? Decerto que sim; e, assim pensando, entreabro os lábios e inicio um suave sopro em sua direção...
          Embalado pelo sopro de vida,que sai dos meus lábios, ele abre as suas frágeis e diminutas asas e alça um elegante voo e desaparece, minúsculo, na imensidão da vida.



                                                  Alexandre Brito - 16/07/2011
(*) - Imagem: Google


 

Alexandre Brito
Enviado por Alexandre Brito em 16/07/2011
Reeditado em 16/07/2011
Código do texto: T3099504
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