A  Praça do Povo
 
 
                               “O  homem já nasce com uma sentença de morte. Único animal que sabe, que tem consciência de que vai morrer. Depois que se tem a experiência da vida, do coração pulsando. Depois de conhecer o mundo, seus semelhantes.  Depois de viver, ganhar alguma sabedoria, ele morre. Não é pra revoltar qualquer um?  E ainda dizem: “não é pra se revoltar, não! É pra aceitar, seja bonzinho, morra, de preferência, feliz.  
                               Hoje, não quero aceitar, não quero me conformar. Não quero morrer.
                               Sei que não vai adiantar o meu inconformismo. Que também vou um dia morrer. Mas, hoje, não aceito morrer. Hoje, não! Se morrer amanhã, tudo bem!. Aliás, tudo bem, nada. Não quero morrer.
                               Por que chamam isso de egoísmo?  Não aceito. Se tudo que se faz no mundo é com nosso querido ego, porque o atacamos de maneira tão rude? Ora, ora, não penso assim.
                               Atacamos aquilo que não conhecemos e por isso agredimos o nosso próprio eu. Este mesmo “eu” que trabalha, que ama, que transforma o mundo, que faz arte, que tem compaixão, Então, esse “euzinho” não vale nada?
                               Já houve época em que o homem vivia em média apenas 30 anos, depois passou para 60, logo foi  para os  80. Atualmente, passa dos 100.  Mas o que é um século? Muito pouco. Quero mais. Quero viver tanto quanto a tartaruga.”
                               Um prefeito visionário de uma cidadezinha perdida nos confins do Amazonas criou um   espaço público em uma praça. Qualquer um poderia subir num banquinho e fazer seu discurso existencial. Interessante, que não se podia falar em política. O prefeito queria saber dos problemas existenciais de seus habitantes. Além dos discursos, no final da tarde era permitido pequenos ensaios de teatro, incluindo danças e músicas.
                               Assisti embevecido  o discurso daquele homem que não queria morrer. Intimamente torci por ele. Pensei: “acho que qualquer um de  nós, sinceramente, faria um discurso semelhante”. Das 17,00h. às 19,00h., a praça ficava reservada para a dança.
                               Instintivamente, comecei a dançar, com os olhos fechados e em êxtase, a    música “Zorba, o Grego” .  Uma banda acompanhou meus passos. Ali, naquele momento  mágico, ganhei minha imortalidade. Suprema Felicidade!