Metamorfoses ambulantes: as fases da vida

Envelhecer requer mudar de fases. Você não lembra, mas já teve a época em que era carregado quase todo fim de semana para uma festinha de 1 ano. E lá fazia novos coleguinhas, chorava por mamadeira e dormia às 19 horas como se fosse madrugada. Mal você sabia, aquilo era só o início.

Um dia, seus contemporâneos começam a ir para o colégio, aprendem a andar de bicicleta, passam a pegar o ônibus sozinhos. Mais para frente, a moda é ganhar viagem para a Disney e todas as meninas na sua escola e vizinhança te convidam para as bodas de 15 anos. É época de paquerar, descobrir como o povo se veste fora do uniforme e torcer para alguém dançar a música lenta contigo.

Depois, vem a saga da maioridade. Sempre que você olha para um carro de auto-escola, o motorista é conhecido. Quase ninguém é virgem. E seus camaradas inventam qualquer meia desculpa para organizar um churrasco, porque agora é tão fácil comprar cerveja e seus outros primos etílicos.

Como em um piscar de olhos, se comunicar pelo Facebook é mais comum do que pegar o telefone e você passa a receber mil advertências sobre fulanos, siclanos e melhores amigos que estão se graduando. É tempo de pagar caro para ir a uma festa, mas já se fala em open bar e virar a noite para fazer a ocasião valer a pena e esquecer que a próxima etapa é caçar emprego.

Até que se leva um susto pois o primeiro distraído da sua geração fez um filho e algum outro valente ficou noivo. Mal você recupera o fôlego, já está em uma avalanche de casamentos e, pode esperar, você acabará no altar em algum deles, nem que seja como padrinho/madrinha.

É neste ponto da vida que eu estou. As colegas solteiras rezam para pegar o buquê e os garanhões torcem para uma delas estar tão carente que fica “facim, facim”. Os sentimentais choram na cerimônia, enquanto os céticos fazem piada. Todo mundo se empanturra de comes e bebes porque gosta ou por querer motivos para reclamar da festa. No final das contas, é quase sempre divertido.

Casamento é como uma última noite de farra, a despedida das fases anteriores que, de repente, soam tão mais fáceis do que as que te esperam a seguir. No próximo passo, aperte os cintos! Segundo dita o manual da sociedade, quem vira chefe de família é você, com todas as emoções e pânicos que vêm com isso.

Nasce o primogênito! Seus amigos não falam mais do frissom que é beijar na boca, mas do desafio que é trocar fraudas, lidar com criança mimada e abrir poupanças para pagar as escolas. Agora é você que organiza festinhas de 1 ano, apresenta seu pimpolho à bicicleta e observa o tempo voar enquanto a nova geração muda de etapas.

Aí ocorrem alguns divórcios e re-casamentos. Surgem o aposentados, avós e “viagrados” pioneiros. Até que alguém inaugura a era dos testamentos e velórios. É quando você reza para não ser o primeiro, embora também não queira ser o último.

Então, você fica saudoso, conta para os mais novos que a vida passa rápido como um jato, é sábio aproveitar melhor e logo! Mas eles não acreditam... faz parte... até que eles próprios cheguem na fase final.