BOTÃO DESLIGADO

     Elegi a aridez mental como grande companheira neste julho de férias e de pernas de fora. Pensar, angustiar, analisar, preocupar? Estes verbos evaporaram no ar.

     Desliguei o botão e corri solta por terras mineiras, sentindo o cheiro de mato, de terra molhada, de café coado no coador de pano.

     Escolhi, apenas, jogar conversa fora na sala de jantar ocupada por queridos mineiros familiarmente unidos pela empatia, pela tradição, por laços de afeto e por uma espantosa pureza. Esta só encontrada lá pelos lados do interior.

         Deixei os dias me acharem abraçada ao sono ou acompanhada pelo sofá que me aconchegava nas sessões de filmes por longas madrugadas geladas. Noites aquecidas pelos caldos cheirosamente fumegantes e emoldurados por torradas.

      Percorri ainda, de mãos entrelaçadas, orlas de mares cheirando a mariscos e maresia. Anunciavam o nascer da manhã descompromissada, apenas preocupada em não me preocupar com o minuto seguinte. Só queria encher os olhos com os cenários de Itaipu e Icaraí já tatuados em minha alma desde que nasci.

    Deletei a dor da alma nascida de decenal frustração por não conseguir me fazer amada e amar, sem sofrer. Baixei a guarda e me permiti, maduramente, gostar e ser “gostada”, só que de forma tranqüila, quieta. Em silêncio, mineiramente, voltei a ser, a viver. Enfim....

Foto - Denise Mello - Tebas/Minas Gerais - 10/07/2011