Madame Biju traz amor, fama e dinheiro em 3 dias!

De tempos em tempos, eu via um homem barbudo ir até o mesmo cantinho da calçada. Com uma concentração de dar inveja, colocava duas rosas vermelhas no chão, encostadas apenas pelas pétalas. Entre elas, um charuto. Cuidava detalhe por detalhe e ia embora para viver dias de espera, com o pensamento vulcânico, torcendo para que a fezinha desse certo.

Macumba... dizem que só funciona quando o alvo acredita nisso — quem não crê, fica protegido. E há boatos de que ela sempre volta negativamente para a vida de quem a pratica.

Da minha parte, confio tanto na eficiência desses rituais, às vezes leves, às vezes macabros, que não tenho a menor coragem de ceder a seus encantos – a promessa de conquistar meus desejos com o baixo custo de procurar uma encruzilhada e providenciar uma velinha, um santinho, talvez uma galinha preta.

Isso significa duas coisas: estou extremamente vulnerável caso alguém decida rogar uma praga na minha direção; e quem me conhece, pode ficar tranquilo. Não há ex-namorado, ex-“amigo”, nem ex-chefe que eu tente prejudicar. Casas lotéricas, o homem que eu quero e chocolates em geral também estão a salvos.

Minha neurose vai tão longe que até mesmo quando vejo uma macumbinha alheia largada pela rua, fico alterada. “Quem será que fez? Qual deve ser o motivo? Coitada da vítima... Se eu olhar muito, a macumba vem para mim??? Ahhh! Socorro!!! Eu preciso sair daqui! Ok, ok... vou pensar em outra coisa. Borboletas azuis, campos paradisíacos... Ok... Tudo certo... Respiiiira. Iiiinspira... Expiiira... Ufa!”

Eu mais ou menos acredito em destino, essa manjada noção de que nossos caminhos são traçados. Por este lado, o raciocínio é simples e lógico. Macumba interfere no destino dos outros, logo, o Kosmos em seu perfeito funcionamento é alterado e as forças do universo devem ficar putas. O macumbeiro será punido! Penso eu...

No entanto, também creio mais ou menos em liberdade de escolha. Por este ângulo, o ato da macumba é literalmente a tentativa de um livre arbítrio impor-se a outro. O que também deve gerar algum efeito negativo em quem ousa se fingir de deus. Nos dois cenários, interpreto que tais fezinhas, assim como o crime, não compensam.

Minha relação com essas... sei lá... magias negras, estremece ainda por outro motivo. Se ganho muito dinheiro, sou promovida no emprego, o grande amor da minha vida decide ficar comigo e meus “inimigos” perdem tudo o que têm, gosto de pensar que foi porque mereci esses presentes da vida, e não porque obriguei, quase sob tortura, qualquer manifestação divina, sobrenatural e/ou cósmica a me beneficiar.

Há quem não ligue para os meios, desde que os fins sejam positivos. Eu é que não me arrisco. Prefiro o suor das tentativas e a possibilidade de falhar. Grande parte da emoção de viver está aí. Ocasionalmente, não tem como evitar, vou chorar como louca, gritando mentalmente “Por queeeeeeeeee? Por queeeeeeeeeeee sou pobre, solteira e desempregadaaaa?!?!?!”. Mas quando os fatos correrem ao meu favor, não há quem possa me cobrar o preço disso. Eu mereci! É meu!