Quatro na cama

QUATRO NA CAMA

Todo mundo suspirava quando a noiva entrou. Que noiva linda!...Afinal nunca se ouviu falar de uma noiva feia. Todas são lindas. Bem produzidas... Maquiadas, vestido vaporoso, flores na cabeça... Uma fada, uma princesa... Sei lá... Algo divino, inexplicável.

Júlia não fugiu da regra. Linda de morrer. Entrou na Igreja ao som da valsa nupcial, conduzida por duas damas puras e ingênuas. No altar o noivo esperava ansioso. Cabelo com brilho molhado, bem penteado, um fraque com lista de giz, um cravo na lapela, tudo como dita o figurino.

E Marilu estava no primeiro banco. Madrinha. Seu lugar foi reservado. Helena e Lauro também eram padrinhos. E como estavam pertinho cochichavam ali e acolá.

- Você viu Marilu,como Fred está nervoso?

- Também, dia do casamento quem não fica.

- Pois é, e nós duvidávamos que esse casamento saísse.

- Júlia era apaixonada por Hélio, seu primeiro namorado. Só ficava com Fred por insistência dele. Por isso ninguém acreditava que ia acabar na igreja.

- É... Mas depois que seu ex casou não duvidei mais de nada. Desenganada tinha mais que esquecer e entrar em outra.

- O pior Marilu é que Fred também tinha um grande amor. Sabe que ele é divorciado? A mulher lhe colocou um par de chifres e nem por isso ele se separou. Continuava “xonadinho” pela safada. Até que ela fugiu com outro. Aí, usou a Júlia para apagar suas magoas.

O altar estava ornamentado com belas flores. O padre pregou com muita sabedoria. Enfatizou que aquela união era eterna. E perguntou com voz firme e segura:

- Estão dispostos a se amarem, na doença, na tristeza, amando-se e respeitando-se até o ultimo de suas vidas? E os dois responderam:

- “SIM”, com tanta firmeza que convenceu a todos que ambos estavam decididos e felizes com o sacramento. A cerimônia estava quase encerrada quando o cochicho reiniciou.

- Marilu, você sabe que eles vão passar a lua – de – mel em Porto de Galinha?

- Sei... Lugar bonito e romântico para um casal de pombinhos.

- Pombinhos que nada... Eles já experimentaram a fruta há anos. Se você não sabe até um aborto ela fez.

- Foi mesmo? Meu Deus!...Não precisa isso. Tantos meios para não engravidar.

- Ora Marilu, e você nunca ouviu falar em camisinha furada? Pois foi isso, não deu outra, a menstruação faltou.

O padre abençoou o casal. Hora do beijo. Todo mundo esperava que fosse na testa. Que nada! Fred lascou-lhe um beijo na boca. Daqueles de língua que demorou alguns segundos. O padre ficou sem jeito. Mesmo assim se recompôs e parabenizou o casal, desejando felizes núpcias. As daminhas se posicionaram e agora Júlia de braço dado com Fred, seu marido, desfila sorridente pelo tapete vermelho. No caminho para Buffet , Marilu e Helena , continuavam a conversa. Mesmo fora da Igreja o tom ainda era de cochicho. Êta, gente para fofocar.

- Marilu, você visitou o apartamento dos noivos? Está lindo. Muito bem decorado. Tudo de bom gosto.

- Imagino. Tieta gosta de coisas finas. E como dinheiro não lhe falta.

- É mais a cama dela nada tem de fino, sabia? Além de grande, muito pesada. Cada tronco de madeira.

- Vai ver que é moda, Helena. Júlia está por dentro de decoração.

- É... Mas não é isso que dizem por aí não, amiga.

- Não? Fiquei sem entender.

- Te liga Marilu. Essa cama é de quatro. Júlia e seu primeiro amor. Criatura que nunca conseguiu apagar do seu coração. E o Fred vai levar com ele sempre a ex-esposa. A safada que nunca esqueceu. Haja cama pra agüentar... Grande ela é. Espero que seja forte também.

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 08/12/2006
Reeditado em 12/06/2020
Código do texto: T312519
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