Geração leite morno

“Somos os filhos da revolução; Somos burgueses sem religião; Somos o futuro da nação; Geração Coca-Cola” esta estrofe da música “Geração Coca-Cola”, da banda Legião Urbana traz o ideal de pessoa, que busca fazer, que recorre aos seus direitos e exerce sua cidadania. “[...] filhos da revolução, [...] futuro da nação,[...]” aqueles que nasceram dos guerreiros da ditadura, os frutos das lutas e batalhas pelos direitos, que nasceram das lágrimas e puderam sorrir, aqueles que acima de tudo deveriam garantir que os direitos pelos quais seus pais e avós lutaram fossem exercidos.

Cavalos selvagens, transformados em pangarés, com um cabresto eletrônico que transmite a vida dos sonhos, e futebol, novelas e mais outros tantos calmantes eficazes. Os agentes da pátria acabaram por se transformar em um tanto de gente desinformada e medrosa, um tanto de crianças escondidas embaixo das cobertas com medo de algo que nem tem idéia de como se chama, crianças acalmadas todo fim de ano com um pouco leite morno, que faz com que elas tenham um bom sono durante todo um ano. Crianças cansadas e frustradas quando vêem o programa favorito atrapalhado por alguém que simplesmente surge na tela com ma série de palavras bonitas e difíceis, crianças que também podem receber o nome de cidadãos.

É muito mais fácil rezar, pedir a Deus que aquele “santinho” jogado ao lado de um monte de semelhantes no meio da rua no dia das eleições seja confiável, e dê um bom número para o jogo do bicho, é mais fácil orar para que aquele que deu uma cesta básica, para que fossem apertados um tanto de botões numerados, faça aquilo por mais quatro anos, o jeito é esperar que os outros façam o que é preciso, o que é certo. E enquanto essa espera durar a vida vai continuando a mesma, a fome vai permanecendo, forte, o bolso vai viver rasgado, as moedas fugindo para a Suíça.

Não basta pertencer a sociedade e ao país, é necessário exercer a cidadania, se mostrar consciente, buscar conhecer e descobrir, informação não serve apenas de passatempo, horário eleitoral não é para diminuir os gastos de energia, jornais não são apenas para forrar a casinha do cachorro, e voto não é apenas para fazer bonito ou para se mostrar solidário com os vizinhos e conhecidos. Já que quem aprende a pescar ganha mais que aquele que quer o peixe de bandeja, ganha muito mais, ganha por quatro anos, aquele que se preocupa com quem vai estar a frente do país, antes de colocar qualquer um lá. Aquele que prefere café forte à leite morno.