Política de boa vizinhança

Dizem que sempre é bom manter uma boa política de vizinhança. Relacionar-se bem com os vizinhos, ser querido pelos demais moradores do prédio, pelos inquilinos das casas ao lado. Mas nem sempre é uma tarefa fácil. Ainda mais se houver um vizinho decidido a estragar esses planos. Se alguém estiver determinado a tirar-nos do sério. Descabido com suas atitudes, desrespeitando o espaço do outro. Mas vamos falar de algo mais palpável, concreto.

Em toda a vizinhança há apenas uma lixeira. Em frente onde moro. Minha. Serve para pôr os detritos que sobram das minhas comidas, as minhas sobras. Sim, dei-me ao trabalho de comprar uma lixeira, fazer massa, concretar a base, tudo isso para não colocar o lixo no chão até o caminhão da empresa licitada passar. Os demais moradores da rua, apesar de não possuírem lixeira, colocam-os como podem, em cima dos seus muros ou pendurados em árvores à frente das suas casas. Até o momento, nenhum problema. Não fosse algum vizinho, não identificado até o momento, colocar o seu lixo na lixeira de casa, não deixando espaço nenhum para nosso lixo. Quer colocar o lixo, ponha depois que o de casa estiver posto. Não quero ser egoísta em dizer que não podem colocar os restos lá. Desde que o meu espaço esteja respeitado.

Com o final de semana, muito lixo foi produzido. Era segunda-feira, dia de o caminhão do lixo passar. No domingo à noite, por surpresa minha, a lixeira já estava abarrotada de porcarias e nenhuma delas era lá de casa. Onde ficou o meu lixo até o outro dia, quando passaram pra recolher? No chão, é obvio. Jogado a toda sorte, propício a cachorros de rua passarem, pegarem alguma comida, bagunçarem tudo e saírem. Adonar-se do que é seu não é algo legal. Nem um pouco.

No momento de raiva, imediatamente após verificar o que haviam feito, cheguei a pensar em ficar de tocaia na véspera do próximo dia que passasse o lixeiro, pegar o meliante no flagra, dar um sermão, xingá-lo. Mas a cabeça esfriou e vi a idiotice que pensava. Um erro não justifica outro. Se não respeitam, não é desrespeitando o outro também que o erro será corrigido.

Assim como há pessoas assim, que agem intencionalmente, há muitas outras que não se tocam quando são inconvenientes, desagradáveis. Ou percebem tarde. Nessas horas, quando a ficha cai que o não quisto é você, o melhor a fazer e sair o quanto antes, de fininho.

Podemos encontrar espécimes em todo o canto. No MSN, então, há uma récua desses. O meio virtual faz as pessoas tornarem-se mais desinibidas. E muitas não sabem como lidar com isso. Cada palavra tem um emoticon correspondente e quando vai falar aparece coração, seta, bichinho correndo, explosão, letra animada, frase e aí segue. Se a pessoa não está acostumada com a linguagem virtual é um sofrimento para decifrar. Ou então, não para de chamar a atenção, escreve um monte de coisas e pede opinião a todo instante. É o chato online. Existe, inclusive, reportagens que dão dicas de boas maneiras na internet. Porque é importante ser agradável ao vivo e virtualmente também.

Essa fato faz-me lembrar de uma amiga minha que no meio da conversa ficou offline e continuou a conversar comigo. Disse que tinha um colega de trabalho importunando, não parava de falar de trabalho. E isso era domingo, o dia da folga merecida. Ao menos deveria ser da folga. Ficou aparecendo offline para que não fosse incomodada.

E é disso que tenho medo. De ser como esse colega de trabalho. Porque o chato geralmente é o outro. Mas um dia pode ser que sejamos nós. A Martha Medeiros (cronista do jornal Zero Hora, de Porto Alegre - RS) até fez uma crônica tempo atrás questionando quando somos nós os chatos.

Encontramos gente de todo estilo. Seja o chato bem intencionado, exagerado, ou meus vizinhos do lixo, desrespeitando o convívio harmonioso entre as pessoas. De qualquer modo, sempre haverá alguém assim, próximo de nós, na internet ou seremos nós mesmos.