Atravessando a fronteira

Encarar a polícia federal gera sempre um frio na barriga muito incômodo. Quem deseja atravessar a fronteira, afinal, quer o que? Ouso pensar que 80% das pessoas mentem ao se taxarem como turistas, por isso os agentes reservam no olhar uma desconfiança a priori. Ou o clima de tensão está só na minha cabeça?

No meu pensamento, a cena se desenvolve assim: canto uma música feliz por dentro para permitir que outra parte do meu cérebro perceba com olhar clínico tudo o que está acontecendo em volta sem estampar o pânico na minha cara. Outro setor do meu raciocínio revisa minhas verdades e inofensivas mentiras, enquanto meu lado emocional reza ao Kosmos para que eu seja atendida pelo “good cop”, alguém que eu percebi que boceja ou sorri enquanto interroga. Jamais aquele de testa franzida.

Nessas horas, ajuda ser entrevistada por um homem, solteiro e com fetiche por brasileiras (provavelmente fantasiando sobre bundas enormes e samba). Foi como aconteceu comigo.

Então, o cara esquece que está em posição de autoridade federal, olha meu passaporte e flerta: “Preciso ir ao Brasil”. A mim cabe sorrir e dizer: “Precisa mesmo. É um país lindo, com ótimas praias e um clima maravilhoso”.

É assim que faço ele pensar mais em calor e mini biquinis em morenas suadas, do que na minha verdadeira intenção ao ingressar no país dele.

E pronto, passei pela temida imigração dos EUA.