Enfiando o pé na jaca

Um dia em Nova York e logo tive que aceitar a realidade crua e nua: é impossível não enlouquecer indo às compras.

A cidade dos outlets é um convite apetitoso ao consumismo. Torra-se fortuninhas em questão de segundos, e gasta-se isso sorrindo. Porque essa pobreza, a falência temporária das carteiras, é bem-vinda quando se compra Ralph Lauren a preço de banana.

Bastou dar uma flertada com as vitrines e bater o olho nas roupas e nos sapatos para eu abrir os braços com alegria, sentindo uma certeza plena de que nada é supérfluo. Tudo aparentava essencial para o bem-estar do meu corpo.

Minha mente montava argumentos em questão de segundos, sempre me convencendo de que é preciso estar prevenida para o frio, o calor, o tempo morno, as noites chiques, as tardes calmas, as horas de descanso. Convenhamos, viver requer acessórios já que o mundo não optou pelo nudismo.

E, para mim, essa missão de alimentar meu guarda-roupa até que doeu pouco. Os lindos dólares que torrei foram comprados há mil anos luz e, hoje, não passaram de papel velho na minha consciência cega.

Lembro vagamente do horror que senti quando suguei minha poupança na troca do câmbio. Mas, agora, tudo foi só prazer, prazer, prazer de ir às compras.