Todos os sabores se mesclam na alma de paulista.

Na alma de paulista, criatividade rima com diversidade, junto de uma boa conversa, com a curiosidade latejante, o interesse pelas coisas novas e o aprender a lidar com o diferente. Essa condição foi se definindo desde a segunda metade do século XIX, quando São Paulo resolveu, definitivamente, dar o ar da graça ao mundo, com sua promessa de trabalho e de direito ao progresso. Na época, com o atrativo da grande produção do café, os italianos, portugueses, espanhóis, alemães, árabes, japoneses, poloneses, turcos (sim, porque naquele tempo existia o Império Turco-otomano e começamos a achar que árabe e turco era tudo a mesma coisa) vieram dispostos ao trabalho árduo nas grandes fazendas e também na capital e todos acreditando que a vida seria melhor resolvida no lado de cá do Atlântico.

O jeito paulista de sentir e de estar no mundo foi, então, se desenhando, devagar, com capricho, misturando as múltiplas cores e saberes, sonhos e paixões. Os valores culturais e morais provenientes das pequenas aldeias e também das cidades maiores foram se fundindo na generosidade do abraço que São Paulo soube dar, apertado e incondicional.

E hoje, eu vivendo na capital dos catarinenses, deixo fluir a alma paulista sem nenhuma economia, e sempre saboreando os momentos – doces momentos - das descobertas, valorizando as múltiplas manifestações de cultura.

Acabo de fazer uma rápida viagem ao norte do Paraná. Trouxe dali o feijão macio e saboroso, que acabo de aprender a cozinhar com algumas folhas de limão. Mas só fui aprender isso quando estava na segunda etapa da viagem, em São Leopoldo, a primeira colônia alemã do Brasil. Nessa cidade gaúcha aprendi a observar a importância que se dá aos bancos de promessa. Explico: bancos de promessa são aqueles, em alguns santuários, como o do Padre Réus - que têm gravados no encosto o nome e a data de nascimento do fiel, em sinal de agradecimento a uma graça alcançada.

Foi ali próximo, em Nova Santa Rita, que aprendi a fazer a saborosíssima schimia, um doce de frutas, parente próximo da geléia. E fui aprendendo: fazer o chá de laranja, a bolachinha de nozes, o amanteigado de banana. E quando voltei para a minha casa, foi a vez do meu marido ir a Belém. Voltou carregado de castanhas, guaraná, chocolates de cupuaçu, de murici, de bacuri... Centenas de fotos interessantes e outras falas e feições.

Misturei as castanhas do Pará trituradas na massa da bolachinha de nozes que trouxe do Rio Grande. E o próximo passo vai ser dividir essas descobertas com meus iguais.

A alma de paulista tem disso: a alegria imensa de estabelecer contatos junto da suavidade e da doçura das diferenças. E o momento mágico da alegria de viver se mostra, infalivelmente, no deixar acontecer o encontro dos múltiplos valores culturais, partilhando-se os resultados, exibindo as descobertas com brilho quente no olhar, mostrando centenas de fotos e dividindo a comida, a mistura das receitas, provocando os paladares e as saudades.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 09/08/2011
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