Papai
As suas têmporas já estão bastante grisalhas. Sinal de que a idade inevitavelmente avança com o tempo. A cabeleira antes cheia, agora é rala, prenúncio de uma iminente calvície. Eu ainda me recordo do seu rosto jovem e do seu sorriso de rapaz. Assim como também me lembro de seus braços fortes, que me carregavam feliz para seu colo – lugar da minha segurança, quando pequena.
Papai me ensinou tantas coisas que é difícil me desligar delas: aprendi com ele a andar de bicicleta, aprendi a admirar os aviões que deslizam entre as nuvens, aprendi a não ter medo de recomeçar a vida, não se importando com o tempo nem com a distância.
Hoje, não sou mais menina, sou uma mulher de vinte e tantos anos. E papai agora já é um senhor. Suas mãos continuam fortes e resistentes, no entanto, minha insegurança e medo já não repousam em seu colo, mas sim, fazem morada nos conselhos de seu coração.
Coração esse meu que pulsa ligeiro, quando papai conta suas peripécias realizadas durante a sua juventude. Sem dizer, de sua história de vida – o garoto abandonado pela família aos 13 anos de idade. E que sozinho aprendeu a viver por esse mundo de Deus.
É claro que o meu coração também se rebela contra papai, digo isso nos momentos em que ele xinga os outros motoristas no trânsito, nas horas que questiona a existência de Deus e na falta de disciplina com a sua saúde.
Porém, é nas imperfeições de papai, que eu o admiro cada vez mais. E se hoje, eu existo, pelo menos cinqüenta por cento eu devo a ele. Não sei até quando papai estará presente em minha vida. O amanhã não se sabe, contudo, o que eu quero e preciso é continuar cultivando as sementes de nossa amizade. E também, permanecer constantemente, enlaçada na gratidão do seu amor.