O menino que sobreviveu

Em meio a Machado de Assis, Somerset Maugham, Alexandre Dumas, Mary Shelley, Conan Doyle, J. D. Salinger, e tantos outros nomes importantes da minha estante de livros, J. K. Rowling merece destaque, pois foi a responsável por trazê-los até mim. Poderia ser qualquer um, mas não foi. Rowling apresentou-me um universo do qual nem se quer tinha conhecimento. Universo que passava longe, feito o diabo fugindo da cruz. Deus me livre de tal infortúnio, pensava. E quem me viu, que me vê. Hoje, não passo um dia se quer sem ler algo. Minha bolsa nunca está sem um livro, e já me aventurei a ler três obras de uma vez só. Mas nem tudo é um mar de rosas.

Conheci Potter, li e reli, vibrei, vivi a narrativa tal qual todos os leitores fãs das aventuras um dia viveu. Enfim, poderia me considerar um pottermaníaco. Mas, não passava disso. Raramente procurava outra coisa para ler, e quando acontecia, não passava das primeiras páginas. Até que chegou o momento em que terminei a Ordem da Fênix e não havia mais nenhum até então. Fiquei por um momento órfão da aventura. Nesse intervalo, procurei outro livro e fiz o erro, que provavelmente muitos já cometeram, de procurar a mesma magia, que me fazia ler e não querer parar mais, em outro livro. Resultado: não encontrei, e qualquer outro que não seguia a mesma linha, para mim, era um péssimo livro.

Fiquei, digamos assim, dependente do estilo Potter. Mas o tempo passou, eu cresci, estudei, entrei para o curso de Letras e conheci o outro lado da moeda, a Literatura. Não a literatura de Rowling, mas a do Machado, do Alencar, do Dumas, e a partir dali, meu gosto mudou. Lembro-me de ter perguntado à professora por que Potter não era estudado assim como Machado. A resposta: porque não é literatura para ser estudada. É para ser lida e só. Esse "só" doeu ouvir. Com o tempo, aprendi a entender o que era o "só" da professora. E no final das contas concordei com ela. Só para ser lida, e nada mais.

Digo tudo isso, porque a saga chegou ao fim, mas não da maneira como esperava. O filme, apesar dos pesares, é bom, portanto minha angústia não tem relação com o cinema, mas gostaria de ter terminado com a mesma euforia com que terminei os livros. Vai ver, o "só" da professora ficou tão dentro de mim que Potter já não era mais tudo aquilo que eu achava antes.

Meus moldes melhoraram, com toda certeza, e seria covardia colocar tais livros em confronto com os da Rowling, mas uma obra tão importante para o meu crescimento literário merecia mais destaque, ao menos para mim. Porque Potter não é para ser estudado, mas para ser lido, apreciado e especialmente por quem o lê. Harry é algo tão subjetivo que ninguém melhor do que você mesmo para julgá-lo.

Hoje, os volumes de Harry Potter dividem a estante com outros nomes muito mais importantes no quesito Literatura, mas nunca esquecerei que foi Potter o responsável pela vinda deles. E se o grande feito dele foi fazer só isso, então Potter sempre sobreviverá ao lados imortais .

Eduardo Costta
Enviado por Eduardo Costta em 10/08/2011
Código do texto: T3151242
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