O valor de um abraço

 

Minha tia e sua filha estão nos visitando. Viúva de meu tio, irmão de minha mãe, ela e sua família são de muita importância para nós. Prima e amiga de minha mãe, foi com ela que realizei meus primeiros passeios para a cidade grande – Barra Mansa, onde íamos comprar sapatos e ver filmes em um cinema grande e moderno. Estava com ela quando sofremos um hilário e inesquecível acidente de trem e estava com ela, nos finalmente dos abraços de boas vindas quando o telefone tocou. Minha irmã disse que era para mim, mas não sabia quem era. Fui atender.

É incrível como em momentos de emoção a mente nos prega peças. Ora nos lembramos de tudo, tim tim por tim tim, ora a memória nos engana  e esquecemos as palavras ficando só a essência. Gosto que as palavras sejam ditas ou escritas da forma como foram pronunciadas, mas não sei se serei capaz de reproduzir aqui cada uma das palavras que ouvi e disse. Mas a emoção continua. Sei que nunca esquecerei esse momento, como nunca esqueci aquele acidente de trem, quando minha tia comia uma banana no momento exato em que o nosso vagão pulou fora dos trilhos. Ela começou a chorar, mas não parou de comer a banana. E eu comecei a rir. Dessa vez eu não ri, mas meus olhos ficaram úmidos.  

Ele começou se identificando, dizendo o nome e que fora meu aluno, perguntando se eu me lembrava dele. Sim, eu me lembrava de um aluno com o nome dele, mas seria impossível reconhecer na voz do homem a voz do menino. E então ele me disse o quanto eu fora importante na vida dele, o quanto ainda pensava em mim.  

Já haviam me dito que ele me procurara, lá na minha Fábrica de Pães. Imaginei que fosse um ex-aluno retornando para sua cidade e buscando suas raízes. Não pude comprovar, mas não pareceu que fosse. Tem um emprego em um lugar até perto de mim e trabalha com produção de mel. Fico triste pensando que já passou por mim e não o reconheci. Fico curiosa em saber a razão de só agora ter me procurado.

Foi então que ele falou, com palavras que nesse momento se embaralham em minha memória. Vou tentar reproduzir, pelo menos garantindo a essência do que foi dito: Estava conversando com minha esposa e disse a ela que, quando criança, em minhas lembranças, a senhora foi a única pessoa que me abraçou. Fui abandonado por minha mãe aos dois anos de idade e um dia, quando tirei uma nota muito boa em matemática, a senhora me abraçou me dando os parabéns e dizendo o quanto eu era inteligente. Por isso eu sempre abraço meus filhos mostrando o quanto são importantes para mim.  

Ainda conversamos trivialidades, prometendo nos encontrar, ele me trazendo um presente que sempre quis me dar – um livro. E mel de sua produção. E eu prometendo um novo abraço. Só que agora quem precisa deste abraço sou eu.