O poder da escrita


   Antes de começar a escrever, deveríamos entender o que é a escrita; o que representa colocar no papel uma sucessão de letras ordenadas de forma a transmitir uma informação a terceiros. É sobejamente espetacular poder exteriorizar através de sinais gráficos o que se passa nos recônditos da mente; imaginemos o que seria deste mundo se não tivéssemos tal atributo... Mas ainda assim convivemos com conflitos derivados da falta de comunicação adequada entre os povos e as pessoas. Dizemos o que não se deve e ofendemos a quem não merece, apenas por não controlarmos a fúria verbal que nos assola com alguma constância. Por isso acredito que a escrita deve ainda ser revestida de maior cuidado: palavras ao vento se perdem, mas as impressas reverberam no tempo e continuam a ofender ou a agradar aos leitores por tempos incomensuráveis.

   Lemos cotidianamente tanta bobagem e perversidade, assinadas por indivíduos descomprometidos com a ética e o respeito humano, que já se torna aceitável aos leitores acríticos tal maneira de se expressar. A catarse gráfica a que assistimos nos torna frios em relação ao conteúdo escrito e ao que tal conteúdo poderia infligir em angústia ou desespero aos protagonistas.

   Quando escrevemos, temos tempo hábil para organizar nossas idéias e nos fazer entender. Não se pode creditar ao comportamento passional a transmissão de uma idéia ou informação escrita. Diante do exposto é assustador travar contato com as odiosas idéias impressas do quilate daquelas apresentadas pelo assassino étnico norueguês ou até mesmo as fofocas de folhetins sobre as doenças de nossos famosos ou desvios de conduta alheios. Por trás de tais informações, há sempre uma mente pensante, intolerante, tendenciosa, fria e calculista em relação aos benefícios próprios, mas incapaz de perceber o dano moral que origina, pelo menos até o momento em que se invertam as posições e se torne tal mente a própria notícia a ser perpetuada.

   O ato de escrever é por natureza nobre e deveria ser acompanhado de nobreza em seu desenvolver.
Max Rocha
Enviado por Max Rocha em 12/08/2011
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