Não há quem não morra de amores...


 Paisagem linda da Lagoa do Mundaú, no Pontal da Barra- Maceió AL(foto EDNA LOPES)
 
“Eu sou da terra onde há lagoas,
Da terra onde há marechais,
De tantos risos, de tantas loas,
Tantas ilhas, tantas crôas
À sombra dos coqueirais
Ah! calabares de holanda
Mares de uma banda e o velho chico ao sul
Esse graciliano, esse jorge de lima,
Essa nêga fulo!
Ah! marechal floriano de ferro e de flores
Não há quem não morra de amores pelo meu lugar”
 

        
Depois dos comentários e emails que recebi(todos concordando comigo) após a publicação da crônica  Do que Sorri Maceió  http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/3138394 comentando os transtornos do que  é  "andar" por Maceió nos dias de hoje, pego emprestado os versos da canção do compositor alagoano Eliezer Setton para dizer que também “morro de amores pelo meu lugar”, mas que esse amor não me cega. Consigo ver dentro e para além dele a beleza que emociona e encanta a quem por aqui passa, e também todas as misérias produzidas pela negação dos direitos, pela violência, pelo descompromisso e descaso dos seus administradores.
       Sim. Não há quem não morra de amores por um lugar de natureza exuberante, paradisíaca. Com um mar de tantas tonalidades, com lugares pitorescos e agradáveis. Não há quem não se encante com a culinária simples, mas  de sabor tão especial. Não há quem não morra de amores   ao conhecer mais de perto essa gente tão desconfiada quanto hospitaleira, quase rude em muitos momentos mas também capaz de grandes gestos de generosidade, afeto e ternura com quem é de sua confiança e amizade.
     Minha origem é do campo, mas vivo em Maceió já há tanto tempo que imagino que reconheço todos os seus códigos, seu modus vivendi e aprendi também a amar seus contrastes. Moro numa  das partes aparentemente sem  grandes problemas, mas não é por isso que vou fechar os olhos e fingir que está tudo bem, que tudo aqui é só céu e mar. Como cidadã que paga seus impostos não me calo diante do que acho errado e sei que é possível fazer diferente.
       Conheço razoavelmente bem algumas das grandes capitais desse país e sei que também tem problemas de toda ordem. Sei que também em muitos bairros dessa e de qualquer cidade desse país, parte dos problemas (trânsito caótico, lixo, falta de zelo e modos) é uma questão de educação do nosso povo, mas em momento algum irei culpabilizar unicamente quem é a maior vítima.
       Quero deixar bem claro que minha irritação com os administradores da cidade e do estado não inclui o  povo, já  tão massacrado, tão sem autoestima, tão envergonhado em assumir suas raízes, seu sotaque, seu jeito de ser. Não inclui não reconhecer suas belezas naturais nem a beleza da alma de seu povo, produtor de cultura, consciente do quanto ainda há por fazer para reverter esse quadro de exclusão e miséria para tantos que merecem um bom lugar pra se viver.
       Não há quem não morra de amores por um lugar tão especial como o lugar que guarda nossas raízes, ou que nos acolhe.


 
"Ah! mais que um solo de cana
Essa terra tem gana de fumo e algodão
Djavan, jararaca, hermeto, paurílio
Maestro fon-fon
Ah! é zumbi dos palmares
União de cores
Não há quem não morra de amores pelo meu lugar
Eu sou da terra onde há lagoas...
Ah! cabanada no norte
Um bispo sem sorte, os caetés
Teotônio vilela, pontes de miranda,
Aurélio de "a" a "z"
Ah! mesa rica de renda e de tantos sabores
Não há quem não morra de amores pelo meu lugar
Ah! brincadeira é chegança
E o guerreiro que dança faz tremer o chão
Zé maria tenório
Entra! pedro teixeira, theo brandão
Ah! dos prazeres senhora
Abençoe os senhores
Não há quem não morra de amores pelo meu lugar"
 
 
Ouçam a música e vejam esse maravilhoso o vídeo. Eliezer Setton é uma das boas "coisas" dessa terra

 
 http://www.youtube.com/watch?v=SrtIQNH3eAY&feature=related