Três testes de paciência

TESTE 1:

Você está saindo de um estacionamento particular, em uma rua movimentada do centro da cidade, e fica com o carro parado na saída, esperando uma oportunidade para entrar no fluxo de veículos e ir embora pra casa.

Pra você ter visão, o seu carro ocupa quase todo o passeio, obrigando os pedestres a se desviarem pela frente, invadindo a rua.

Você observa a fila de carros passando e espera.

É carro que não acaba mais.

E ninguém tem a bondade de reduzir um pouco a velocidade, criando assim uma brecha para você entrar.

De repente, quando você acha que vai dar, vem uma moto em alta velocidade...

E não dá.

Tem início mais uma interminável fila de carros.

“Agora vai dar”, você pensa. Mas não dá. Um pedestre gordinho, carregando várias sacolas de supermercado, atravessa na frente do carro. Quando ele acaba de passar, a brecha já não existe mais.

Nova fila de carros.

TESTE 2:

Você está no supermercado, com o carrinho cheio, cansado e com pressa.

Percorrendo os caixas, você calcula mais ou menos, com base no número de carrinhos e na quantidade de mercadorias que cada um leva, qual fila vai andar mais rápido.

Escolhido o caixa, você se posiciona na fila e aguarda.

Eis que, quando você menos espera, já quase na sua vez, surge um problema no cheque da senhora idosa que está na sua frente.

“Tudo bem... deve ser coisa rápida”, você pensa.

Mas não é.

A moça do caixa chama um rapaz de camisa vermelha e lhe mostra o cheque. Ele coça a cabeça e diz: “Vou ver onde está o Rui”.

“Só um minutinho”, diz a moça.

Você olha o relógio. Só um minutinho. “Ok”.

E os minutinhos vão passando...

O rapaz volta e cochicha no ouvido da moça: “O Rui tá de caganeira lá no banheiro da gerência. Encostei o ouvido na porta... O negócio não tá nada bom”.

Risos mudos.

A senhora idosa pergunta: “Como é que é? Já resolveu?”.

“Só mais um minutinho”, diz a moça, sorrindo.

TESTE 3:

Você está no sítio do seu pai [um lugar cheio de árvores, galinhas, cachorros e passarinhos, que os seus filhos chamam, com prazer, de “roça do vovô”].

Quatro da tarde.

A galera está toda espalhada pelo sítio: uns no galinheiro, outros dormindo nas redes espalhadas pelo quintal ou na varanda, outros jogando cartas, bebendo...

Mas ninguém [absolutamente NINGUÉM] se encontra nas proximidades do banheiro, o que te faz pensar que o caminho está livre.

Você então pega as partes do jornal que você mais gosta, o livro que você está lendo, o rádio sintonizado na Guarani, e se dirige até o banheiro para desfrutar de alguns minutos de merecida solidão.

Você posiciona o cestinho com rodinhas [que originalmente era destinado a verduras na cozinha, mas que você converteu em cesto de livros e jornais para banheiro] em frente ao vaso sanitário e se acomoda, como um rei.

Dez segundos depois, quando todo o processo se inicia, você vê a maçaneta da porta se mexer três vezes.

Você não acredita naquilo. “É uma ilusão”, você pensa.

Mas ela se mexe mais três vezes, dessa vez com barulho.

Alguém que parece ter se materializado ali [como num passe de mágica] está realmente querendo usar o banheiro.

O que fazer? Abortar a missão?

A pessoa tenta mais três vezes...

“O desgraçado deve estar apertado”, você pensa.