O cachorro que caçava pacas

Foi em um tempo em que todas as águas do céu resolveram cair sobre as terras do Pantanal. Chovia quase sem parar há mais de uma semana e estávamos ilhados. Os bichos recolhidos em seus currais, piquetes e tocas não faziam a algazarra, costumeira, de todos os dias.

E sob esse clima de barulho de garoa que não parava de cair - de silêncio misturado com pingos de água que caiam sobre nossa casa coberta de capim - que meus pais foram fazer a sesta e ordenaram-nos que lavássemos os pratos que havíamos sujado no almoço.

Tomei as duas gamelas que tínhamos na cozinha, coloquei a primeira em cima do pranchão, próximo ao fogão, e a segunda na porta da cozinha onde caia a chuva. E falei para as minhas irmãs Arlete e Belmira: Eu ensaboo os pratos, a Arlete enxagua na chuva e a Belmira seca e guarda. Foi assim que começamos a desenvolver a tarefa.

Aí tive a ideia de contar um causo sobre o Baíto. Imaginem um cachorro baio, forte e sabido. Esse era o meu Baíto que só existia em minha imaginação.

Pois é, certo dia, os Delicardêncio precisavam fazer o almoço e não tinham carne. Então Dona Amarildes chamou o Baíto e lhe falou: “- Você, Baíto, vai buscar uma caça para eu fazer para o almoço.” E o Baíto saiu afoito. Pulou a primeira, a segunda e a terceira cerca que encontrou e caiu no cerrado que cercava a fazenda dos Delicardêncio.

Bem lá no fundo da propriedade onde ficava o rio, o esperto cachorro avistou uma paca que fugiu para dentro do rio. Baíto pulou na água, apanhou a paca esperada para o almoço e tocou para a casa.

Baíto chegou ao terreiro da fazenda dos Delicardêncio e estes não acreditaram no que viram, pois não acreditariam, se não tivessem visto, a façanha do tal cachorro obediente, que caçou uma paca para o almoço.

Quando eu estava terminando o meu causo olhei para trás e fui surpreendida por meus pais, que riam da minha história.

Meu pai disse: “- Mas báh tchê! Como tu gosta de contar causo!