Fio de sinceridade

Foram muitos momentos passados para chegarmos até aqui, momentos em que procuramos não enxergar de perto o lado obscuro do outro, do amigo, do irmão, de um parente distante, enfim, ficamos torcendo para não nos decepcionarmos ,pois não queremos manchar a amizade, carinho, respeito, que nutrimos no dia a dia; porém, isso não impede o baque, a ironia da vida nos dando uma lição. Somos capazes de gestos grandes, de enxugarmos uma lágrima, de perdoar uma fraqueza, de acolhermos num momento em que precisamos de um ninho, entretanto, quando pensamos que merecíamos um pódio, ou num mínimo, um "muito bem", "você conseguiu", descobrimos que os sentidos dos outros adormecem, ficam indiferentes, é complicado entender o lado pantanoso do ser humano. Daí observamos com carinho intenso quem amamos, e muitas vezes não compreendemos,

como, por coisas que não se consegue dizer, nem expressar, sentimos em silêncio, nossas emoções passarem sem serem notadas, isso nos machuca imensamente. Alheios a isso, o jornaleiro continua entregando os jornais, onde em vão buscamos perspectivas de dias melhores, o verdureiro continua seu ofício de vender tão preciosos alimentos, mães levam seus filhos à escola, os táxi sorriem ancorados, em busca de uma maré boa, e esmolés desfilam esperançosos sob olhares frios e indiferentes de uma gente que acostumou-se estranhamente achar que tudo é normal...

Daqui da minha escrivaninha, um fio de sinceridade me liga à vida e avisa, que falta de sentimento com o outro, definitivamente, não é normal.

Ada Mendes
Enviado por Ada Mendes em 16/08/2011
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