Como é que você está se sentindo?

Houve uma época em minha vida em que alimentei uma verdadeira admiração, atração e curiosidade por consultórios de Psicologia. Não pelo espaço em si, mas pelos véus que poderiam ser ali descortinados. Era um tempo em que a palavra “autoconhecimento” batia mais forte à minha porta e, de tanto bater, acabei deixando-a entrar. Talvez, a palavra “necessidade” seja a que explique melhor o ápice dessa procura toda por mim mesmo.

Acredito que esse é o tipo de necessidade que mais dia ou menos dia surge na vida de qualquer um, assim, meio que do nada. Numa bela manhã você acorda, se olha no espelho e começa a divagar sobre verdades ainda não reveladas, tais como: quem sou eu? O que é que eu vim fazer aqui? Se essa imagem que está aí refletida não diz tudo, onde é que está escondido o resto? Além de uma série de outras questões que você só descobre depois que passa por uma experiência assim, como em um consultório psicológico.

Acontece que na vida, existem certas ocasiões em que a gente vai em busca de algo e acaba descobrindo outras, muitas das quais você nem intencionava encontrar. Foi o que aconteceu comigo. Confesso que quando optei por esse caminho na tentativa de achar respostas para algumas questões pessoais, o propósito era um. Com o desenrolar das sessões, fui descobrindo toda, ou quase toda, a poeira que tinha jogado pra debaixo do tapete. Uma série de feridas que havia sido encoberta pela poeira do passado, além de algumas potencialidades desconhecidas.

Uma diversidade de fatores, como disponibilidade de profissionais dentro do meu plano de saúde, encaixe de horários dentro da minha rotina de trabalho ou dentro da rotina de quem iria me atender, deslocamentos e distâncias a serem percorridos, entre outros mais, levaram-me a um universo reduzido de escolhas que poderia ter feito. Bem... partindo das restrições inerentes, acabei ficando aos cuidados de uma psicóloga que resolveu me assumir num horário meio impróprio, logo após o almoço. Digamos que ela tinha por sobremesa os relatos de um cliente. Ossos do ofício!

Com um leque tão pequeno de opções, não podia me dar ao luxo de me preocupar com a linha de abordagem adotada por qualquer que fosse o profissional que cumprisse com tantas prerrogativas. Acreditava que essa história de linha de abordagem seria um aspecto secundário, sem maiores implicações. Mero engano. Esperava alguém mais especulativo, que me instigasse mais e me levasse a refletir sobre pontos que não estivesse enxergando no momento. Duplo engano.

Contrariando todas as minhas expectativas, encontrei alguém que me escutava mais do que falava, que esperava muito mais de mim do que eu dela. E em cima de todo seu profissionalismo e dos encontros que tivemos, cheguei à conclusão de que as respostas que eu precisava deveriam ser procuradas por mim e dentro de mim mesmo.

Por outro lado, das poucas palavras que ouvi, uma pergunta ficou marcada para sempre. Ela podia vir no começo, no meio ou no final de uma sessão, normalmente, após alguns minutos quase-sem-fim de silêncio. Por vezes, ela serviu mesmo como um quebra-gelo, até porque, dias e situações aconteciam em que eu não tinha a menor ideia por onde começar ou continuar. Então, pra simplificar (ou para complicar!), ela me perguntava: como é que você está se sentindo?!

Esse foi o tipo de pergunta que só ganhou importância com o passar dos anos, assim como um vinho que melhora a cada dia que envelhece. À época, era uma pergunta qualquer como outra qualquer, sem maiores pretensões. Somente depois percebi que ela representava uma chave para tantos segredos internos. E hoje me acompanha aonde quer que eu vá.

Atualmente, o meu interesse por esses espaços já diminuiu bastante e não parece ser mais o mesmo. No entanto, o autoconhecimento ainda continua batendo à minha porta, trazendo a tira-colo a boa e velha pergunta: como é que você está se sentindo?!

Independente da situação, ainda que os dias pareçam nebulosos ou mesmo quando tudo vai bem, mergulho fundo e procuro ser fiel em minhas respostas a essa indagação. Em geral, acabo descobrindo os “como”, os “porquês”, os “quando”, os “onde” e todo um leque de explicações de que preciso para seguir em frente. Como um remédio que se toma diariamente, até então ela tem me servido como uma pílula dourada.

Mano Kleber
Enviado por Mano Kleber em 19/08/2011
Reeditado em 26/10/2012
Código do texto: T3168905
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