A PAISAGEM QUE INSPIROU A MINHA INFÂNCIA! UM SONHO...UMA VIDA

Ia fazer sete anos.

Era um rapazito traquina como qualquer um da minha idade.

Jogava ao pião, ao eixo, ao berlinde.

Corria pelas encostas da serra, ao sabor do vento que se fazia sentir.

Trepava pelas oliveiras em busca dos ninhos de melro, assim que chegasse a Primavera ou corria atrás das borboletas que poisavam nos malmequeres campestres, para depois de as ter na mão, e com aquele ar gaiato mas maldoso, arrancar-lhe as asas e formar numa folha de papel, um esquelético estampado.

Via as andorinhas aproximarem-se dos beirais da casinha onde morava para aí construírem o seu habitáculo.

Na rua, por entre as casas caiadas de branco, lá ia caminhando quase que descalço para a escola.

Todas as manhãs ouvia o cuco a cantar, e as rolas durante o mês de Maio.

Mês em que começavam a florescer nos campos as rubras papoilas, que por entre os verdes trigais formavam uma tela colorida.

Lá me ia infiltrando por entre o trigueiral, para ver se descobria o buraco onde estava cantando o grilo de asas amarelas e que eu espicaçava para o conseguir sacar dali para fora.

Que saudade desses tempos.

Quando acordava, era um gosto logo ouvir o chilrear dos pardais, e ver que o dia despontava então com um sol mais quente.

Tempo de férias.

Junho acabara de chegar.

Para mim era como que uma utopia. E sempre que a época principiava, pulava de contentamento.

Ia com o avô para a velhinha eira situada ali a uns metros do monte.

Apreciava o evoluir dos dias sentado naquele trilho que ia fazendo a debulha e a ouvi-lo dizer:”Arre macho, Arre macho”.

Eram horas a fio às voltas, mas nunca me cansava.

Ao meu redor tudo era encantador.

O pôr-do-sol, era “saboreado” de uma forma diferente.

Via esconder o astro-rei até desaparecer na totalidade na lonjura do horizonte.

À noite, ficava a dormir ao relento, pois era necessário fazer-se a guarda dos cereais.

Como era bom sentir aquela aragem nocturna a passar levemente pelo rosto.

Um novo dia amanhecera.

E lá ia eu de novo a percorrer as mesmas paisagens, os mesmos caminhos.

As veredas estreitinhas por onde passava o carro de mão, carregado com os sacos da sementeira. O riacho, onde parava para molhar a face que deixava escorrer suor e refrescar-me na fresca água, que corria de mansinho.

Depois, ia também com a avó, pôr o gado na pastagem e sentir o cheiro da erva, agora já transformada em feno.

Levava os porcos para o montado.

Sentava-me à sombra das azinheiras e lavava o cantil e a merenda pra tragar a meio da manhã.

Via os pássaros esvoaçar no céu e os aviões que num ápice apareciam por cima da minha cabeça, quase que a tocar-lhe.

Os ponteiros do relógio urgem a cada a segundo. Uma época que assinalou uma vida.

Já se passaram quase quarenta e cinco anos.

Novos “rebentos” nasceram.

Hoje são eles que marcam o seu próprio território, as suas próprias brincadeiras, o seu espaço na natureza.

É um tempo que não volta mais.

Uma nostalgia que penetra o peito para toda a eternidade e deixa na alma e no coração, uma quimera.

Um Sonho…uma vida!

Como era linda a paisagem que inspirou a minha infância: a planura Alentejana!

O Poeta Alentejano
Enviado por O Poeta Alentejano em 21/08/2011
Código do texto: T3172809
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