Quixotes modernos

A banda Engenheiros do Hawai canta uma música chamada “Dom Quixote” , que como o próprio nome já diz, se baseia na história do fidalgo de La Mancha. O romance de Cervantes conta a história de um fidalgo apaixonado por livros de cavalaria, que no auge de suas leituras tem um surto e inicia sua jornada como um cavaleiro andante. O ponto central da história está justamente no fato de os tempos dos cavaleiros andantes já terem passado, existindo somente nos livros e na mente de Dom Quixote.

Sem se dar conta de seu devaneio, saí montado em seu cavalo ao qual da o nome de Rocinante. E como nos livros todo cavaleiro tinha uma amada a quem dedicava suas aventuras, Dom Quixote se apaixona por uma camponesa chamada Aldonza Lorenzo. Embora ela nunca o tivesse sabido Dom Quixote a nomeia senhora de seus pensamentos e lhe dá o nome de Dulcinéia d’El Toboso. Assim Dom Quixote se torna um legítimo cavaleiro.

Em todas suas aventuras Dom Quixote é motivo de confusões e risos, justamente por viver em outro tempo. As aventuras em nome da donzela amada, a defesa da honra e todos os aparatos próprios dos cavaleiros, já não eram mais aplicados, pior, não eram ao menos conhecidos.

A história do fidalgo de La Mancha sempre me atraiu e tenho certeza que os Engenheiros acertaram, ele hoje seria chamado de otário, pois amar uma pessoa ao ponto de por ela fazer loucuras é hoje, coisa de doido. Amar em si na verdade é considerado algo anormal. Vander Lee não erra quando canta que românticos são poucos; são loucos desvairados.

Identifico-me também com a história do Dom Quixote por eu mesmo ser um amante dos livros, não de cavalaria, mas de romances e por viver meus próprios devaneios e enfrentar meus moinhos de vento. Sou sim um verdadeiro quixoteano. Sou do tempo (e olha que nem sou tão velho) em que Romeu e Julieta eram o ideal de romance. Todo garoto queria ter sua Julieta e toda garota seu Romeu. Tempo em que bilhetinhos de amor eram trocados. Que qualquer garota se derretia quando lhe dedicavam um poema. Tempo onde Djavan era o som dos amantes. Tempo em que os românticos eram o sonho de qualquer menina.

No entanto os tempos mudaram como diz um amigo meu. Eles podem ter mudado, mas eu não mudei. Hoje quem isso faz é chamado de mané. Atentei para esse fato quando em uma ida ao shopping com um amigo onde o mesmo compraria um presente para sua esposa, a vendedora me perguntou se não levaria nada para minha namorada. Como não tenho namorada respondi que não levaria nada. No decorrer da conversa ela me perguntou se eu era do tipo que mandava flores, fazia poema, dava presentes, se eu era romântico. Respondi que sim e obtive a seguinte resposta: “Por isso está solteiro, as mulheres de hoje não gostam disso.” É... Românticos são uma espécie em extinção.

Apesar de toda essa inversão o desafio é continuar a amar, mesmo que causas perdidas. É dizer a si mesmo como D. Quixote respondeu aos que o acusavam de louco: ‎"Eu sei quem sou”. Apesar de tudo não abro mão de quem sou, continuo sendo um quixoteano apaixonado por poesia, leitor de romances, ouvinte das velhas canções de amor, pois creio piamente que não existe sofrimento maior do que o de não amar. Dizem que expresso em demasia meus sentimento, sim, é verdade. Não os quero só pra mim, amor que fica só em si é narcisismo. Não expresso meu amor esperando respostas. Não ligo se hoje muitas delas preferem o Don Juan. Esse sou eu, muito prazer, meu nome é otário!

Ismael Braz
Enviado por Ismael Braz em 22/08/2011
Código do texto: T3176270
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