O desejo que nada cala

Decidir só é possível quando o querer não é de verdade. Essa sensação de liberdade de escolha, dizer sim ou não a um desejo, pensar entre A e B, é impossível quando uma pessoa se vê diante de algo que almeja com toda a força do seu ser. Nesses casos, os homens enxergam tão somente uma opção – aquela que domina sua emoção e bagunça a razão.

Não importa se é certo ou errado, bom ou ruim, simples ou complicado. Os humanos são escravos dos seus reais desejos. Eu, certamente, estou presa aos meus. Carregando a culpa dos impulsos que não pude controlar e os sorrisos eternos dos bons quereres que saciei.

É por isso que não funciona alguém dizer que não te namora porque escolheu há dois meses que precisa ser solteiro por um tempo. Isso significa que há outros caminhos mais atrativos do que você. No dia seguinte, se aquela pessoa encarar um desconhecido que lhe arrebate com um frio na barriga indescritível, ela esquecerá na mesma olhada a ânsia de não se comprometer com a monogomia.

Assim como não funciona lutar para não ser gay ou bailarina. E não adianta ignorar aquela voz interior que avisa “você vai virar padre”. Os verdadeiros desejos vêm de um querer sufocante que exige muito mais resistência do que a complexidade humana é capaz de garantir.

Haverá sempre um momento de fraqueza. A hora em que os guardas dentro de você esquecem de ficar de vigia. E logo volta, cada vez mais forte, o ditador, totalitarista, exigindo que você se entregue ao que almeja.

Insistir em negar-se seus desejos mais profundos é andar por aí com cinco toneladas nas costas. Porque eles jamais se dissipam com o tempo. Se rejeitados, te fazem sentir pequeno, esmagado, exausto de encarar o mundo sendo sempre apenas parcialmente você.