Expectativa X Motivação
Fátima Irene Pinto
 
Geralmente fazemos alguma coisa para para atingir um determinado fim.
Entregamo-nos muitas vezes, de corpo e alma, num projeto e ficamos imaginando quais serão as consequências. Nossa imaginação voa antevendo os resultados e sempre esperamos que eles saiam do jeitinho que imaginamos. Está aí o nosso grande erro.
Enquanto estamos mobilizando nossas forças para atingir determinado fim, estamos no controle.
Nossas ações são pertinazes, sopesadas, reinventadas, apaixonadas, criativas. Colocamos alí o máximo do nosso empenho que pode durar dias, meses ou anos, dependendo do que se projetou ou do que se quer atingir.
E no entanto, a vida está aí para provar que, sobre o "depois" não temos nenhum controle.
Pode ficar muito além da nossa expectativa...mas também pode ficar muito aquém. Aliás, pode não levar a coisa alguma e algumas vezes pode virar o tiro que sai pela culatra.
Um cientista pode estar pesquisando uma vacina para um determinado vírus.
Um agricultor pode estar investindo na cultura de uma nova hortaliça em suas terras.
Um escritor pode estar escrevendo o que ele julga ser o seu melhor livro.
Um publicitário pode estar empenhado na criação de um novo comercial para cerveja que não associe mulheres lindas e futebol.
Um rapaz se prepara, ansioso, para visitar pela primeira vez a moça com quem se corresponde ha meses pela internet.
Os exemplos são a perder de vista.
Mas o cientista, pesquisando uma vacina, faz uma nova descoberta que não estava na sua programação.
O agricultor não considerou o fator clima. Uma chuva forte pode dar fim a toda a sua plantação.
O escritor pode ver seu livro virar um sucesso de vendas como pode vê-lo não sair da primeira edição.
O publicitário pode criar algo diferente e até ganhar o prêmio máximo concedido aos publicitários.
O rapaz pode descobrir que a moça é ainda mais linda e agradável pessoalmente, mas pode também ver todos os seus sonhos ruirem no primeiro encontro. A expectativa tem que ser sempre muito flexível, elástica e realista.
Não se pode confundir motivação com expectativa. Melhor seria não alimentarmos expectativa alguma.
A motivação é algo nosso, é aquilo que nos faz mover céus e terras. Ela é saborosa, joga-nos  para cima e para o alto, faz-nos viver com qualidade e alegria mas a expectativa pertence ao imaginário. Não temos o menor controle sobre o que vai acontecer.
De um modo geral a vida é assim mesmo, cheia de surpresas.
Como diz tão acertadamente Goethe, filósofo alemão, nós não viajamos para chegar mas para viver enquanto viajamos.
É certo que nosso empenho, nossa dedicação e tudo quanto fizemos em prol de um ideal, não ficarão sem troco porém a maneira como a vida vai nos dar isso de volta, é ao modo dela.
Assim colocado, quando tivermos uma rajada de motivação para empreender algo, devemos sim, colocar alí o nosso melhor e fazê-lo apaixonadamente, mas que fique claro: isto já é uma dádiva em si, e por que não dizer 50% do resultado já que, enquanto estivemos laborando apaixonadamente, os dias, os meses fluiram sem nem percebermos. Estivemos completamente vivos, motivados, ocupados e felizes.
A motivação é essencial. A  expectativa desmedida é disfuncional.
Então, para que não viremos apenas espectadores da vida, aprendamos a viver sem expectativa.
Guardemos o melhor pedaço: a motivação para realizar.
O restante, a vida nos devolve a seu modo e a seu tempo.
 
Descalvado - SP
28.08.2011
 
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Fátima Irene Pinto
Enviado por Fátima Irene Pinto em 28/08/2011
Reeditado em 28/08/2011
Código do texto: T3187525
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