Com paixão versus Compaixão. Uma ponta de esperança.

Às vezes fico pensando se ainda temos chance. Se nós merecemos uma oportunidade, ou, se nossa humanidade já se esvaiu. A ideia de um cataclisma fatal para os pseudos-racionais já não me parece tão perturbadora. O tufão rodopiante de intolerância não encontra mais resistência, ao contrário, ganha a força de cem homens quando encontra apenas um coração reprimido. Seu circulo vicioso não respeita estações, estadias, tampouco, estudos. Ele é frio, é feio e, igualmente, forte.

No último final de semana os deuses astronautas nos deram uma oportunidade ímpar de reação. Quiseram eles confrontar uma das paixões mais fanáticas da sociedade moderna com o sentimento mais nobre que um ser- humano pode ter. Futebol versus compaixão.

Em um primeiro momento a derrota parecia anunciada; a turba ensandecida remontava com maestria - ao vivo e a cores - o pior espetáculo que qualquer Coliseu poderia receber. Tal qual imperadores carrascos com seus polegares abaixados, ele cantavam palavras de pura maldade, ou, quem sabe, ignorância. Mas, já dizia o provérbio árabe que “a ignorância é vizinha da maldade”, pouco importava, a ambulância partia coberta de insultos e de preces silenciosas.

O mal feroz, desprovido de sentidos, fazia seu estrago e um coro uníssono bestial. O desfecho do episódio trazia apenas melancolia. Uma vítima no centro, ferida por um toureiro invisível.

No entanto, em uma reviravolta poucas vezes vista, uma onda de solidariedade e amor ao próximo varreu o ideário popular - que não podia tolerar ser representado por um punhado de tolos. Como uma epifania coletiva, surgiu o espaço para uma congruência afetiva sem precedentes. Faixas, escudos e bandeiras foram desbotadas pelas águas da bondade. Torcedores também foram diluídos, massa heterogênea que assumiu uma só forma, um único sentimento, uma só valência: Compaixão.

A fé na natureza humana ganhou sobrevida. Um fio nobre de esperança suspirou em agonia – Eu estou aqui. Não desista de mim.

Não podemos desistir.

Engana-se quem acha que foi o bastante. Não, o ódio continua presente semeando discórdia. Nem todos conseguem ver o amor, mesmo que este esteja a dois palmos – implorando para ser visto na tela do seu computador.

O jogo está empatado. Cabe a você escolher de qual lado está. Porém, lembre-se: pode não haver outra chance. O futuro pode não ser piedoso, mas nós sim.

RSollberg
Enviado por RSollberg em 29/08/2011
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