“RECORDAR É VIVER”
Ontem eles se cruzaram numa rua qualquer, de qualquer cidade, numa hora qualquer.
Dia ou noite? Pouco importa.
Olharam-se e aqueles mesmos sorrisos brilharam nos olhos e nas bocas e nem precisaram de palavras. Era o que menos importava naquele momento.
-Nossa.... Você não mudou nadinha!
-Você também não. É o mesmo de antes!
E já haviam se passado longos 15 anos. E para eles foi como se o tempo houvera parado, estacionado. Nada havia mudado.
-Soube que você casou...
-É. Casei. Mas me separei. – disse ela com leve ponta de tristeza... ou melancolia?
-Problemas?
-Sim, muitos. Violência era o que não faltava. Decidi. Melhor só do que mal acompanhada.
-Corajosa. Muitas ainda preferem mal acompanhadas.
-E você? Feliz?
-Nem sei mais. A gente se acostuma com tudo. Até mesmo em pensar que se é feliz.
-Esse sorriso agora me pareceu de tristeza...
-De saudade!
-Saudade?
-Daqueles nossos tempos. A gente era muito jovem. Não sabíamos, ainda, a profundidade do amor. A juventude toma atitudes impensadas. Os jovens são assim, impetuosos. E pensam que nunca acontecerá isso que está acontecendo agora.
-Agora?
-Este encontro. Foi o passado ou o futuro que nos preparou esse encontro nesta esquina? Não há lua... não há estrelas... não são flores e nem campos que se estendem à nossa frente. Não há uma serenata no ar... nem o canto do rouxinol anunciando o dia. Nada. Não há nada daquilo que sonhamos à nossa volta... mas é como se o tempo parasse e nenhum som se escutasse. Somente nossas vozes. Nossas vozes que sussurram que ainda nos amamos!
Ela colocou seu dedo sobre os lábios dele.
-Não... Não fale.
-Minha boca é apenas a porta voz do meu coração!
-Aquieta seu coração. O caminho está a nossa frente... e é longo...
-Sozinhos?
-Foi o que escolhemos. É tarde.
-O sol nem se foi...
-Nosso sol interior sim. Temos um destino a cumprir. Não sei qual o meu e nem você sabe qual o seu. Mas temos. Adeus!
E ela foi se distanciando... Antes de dobrar a esquina ainda virou a cabeça e olhou...
-Era uma lágrima? ... Mas ela já está tão longe... era uma lágrima! A minha!
F I M
Dia 22 de agosto: Dia do Escritor Louveirense.