“MORFOLOGIA SINTÁTICA”

Na Terra da Gramática viviam quatro advérbios: Portanto, Logo, Todavia e Sempre.

Sozinhos no léxico desde que se perderam num período composto, foram adotados por um velho Til meio intransitivo que cultivava apóstrofos silvestres.

Eram felizes como um ponto de exclamação!

Andavam sempre adjuntos, colecionavam prosopopéias e empinavam catacreses de formas rizotônicas.

Mas a felicidade é transitiva.

Eis que numa manhã de solecismo, sucumbe o velho Til a uma fulminante metáfora no particípio, não sem antes revelar aos atônitos Advérbios, um cruel segredo: três deles eram autênticos paroxítonos, mas um padecia de crônico ditongo oral.

Os pobrezinhos ficaram mais perdidos que cedilha na Escandinávia.

Lembraram-se, então, de Dona Semântica, veneranda mestra de predicados plenos e fugazes reticências, que lhes ensinara a brincar de mesóclise.

Já com idade para requerer obsolescência por tempo de serviço, habitava ela numa velha conjunção cheia de objetos indiretos.

Apesar de acometida de forte hiato, dispôs-se ela a recebê-los.

Foram introduzidos por Vernáculo, fiel companheiro da mestra, cheio de respeitosos circunflexos e que ganhara a vida abrindo parágrafos.

Com a paciência secular de uma desinência da quarta declinação, Dona Semântica reverberou em anacoluta decrepitude:

_Paroxítono, pois não? Simples como uma assíndota. Portanto é sempre, logo Todavia não é. Sendo Logo, Sempre é, portanto. Todavia não.

A menmônica revelação feriu-lhes de chofre a concordância. Desconcertados, saíram pelas silepses a vagar, monossilábicos e em total abstração.

Por pouco não tiveram o mesmo fim dos infelizes Tu e Vós, que perderam as coordenadas e acabaram no Manicômio dos Verbos Alexandrinos.

Mas uma voz passiva lhes sussurrou que muito além dos limites da Terra da Gramática havia um paraíso chamado Brasil, onde as regras gramaticais viviam em absoluta liberdade.

A mudança foi providencial.

Em pouco tempo os quatro estavam vivendo como qualquer brasileiro comum: Sempre endividado, Logo conformado, Portanto sem perspectiva e Todavia otimista.

Ass. Max (um jundiaiense nos Estados Unidos)

Pois é.

Foi justamente assim que esta matéria estava estampada naquele pedaço de jornal amarelado pelo tempo...creio eu, um dos jornais da cidade de Jundiaí, não dava para precisar qual.

Recebi o recorte acima das mãos da minha leitora Ana Rita, proprietária da Flora Bom Jesus, ali perto da Anhanguera e onde são comercializadas as mais lindas plantas.

Ela havia lido o texto há uns 20 anos, recortou porque gostou muito e me ofereceu para esta coluna.

Gostaria de parabenizar o autor deste texto, mas infelizmente ele só o assinou como Max e não sei como o localizar.

Só tenho que agradecer à Ana Rita, pois toda colaboração sempre é muito bem vinda. E ao mesmo tempo quero lembrar que infelizmente neste paraíso chamado Brasil as regras gramaticais, de fato, vivem na mais absoluta liberdade.

Falta de leitura, de incentivo à leitura...

Valeu.

Excelente fim de semana!

Dia 22 de agosto: Dia do Escritor Louveirense.

Ademir Tasso
Enviado por Ademir Tasso em 08/09/2011
Código do texto: T3208655
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