::: Clichê ::::

O ano havia começado e com ele muitas novidades. Escola nova, ou melhor, faculdade. O curso não era bem o que ela queria, mas já que havia ganhado uma bolsa e teria a oportunidade de estudar um novo idioma, resolveu ir. Ela tinha um trabalho estressante, numa mega empresa e chefes que a adoravam. Mas o que ela tinha de inspiração, não possuía de tempo livre.

Ela tinha um quê de escritora, embora adorasse poesias, se dava melhor com os gigantes textos que, ora ou outra, compunha. Histórias de dragões e dilemas familiares, príncipes ou simplesmente homens totalmente reais, tão reais, que existiam de verdade. Ela tinha uma capacidade incrível em se adaptar e fazer amizades, era tão grande seu carisma, que me tornei amiga dela assim: Pedindo uma caneta emprestada.

Uma vez me falaram que as verdadeiras amizades começam de detalhes que mal percebemos. É verdade mesmo. Ela me contava coisas da espiritualidade e da vida, com sua imaginação aguçada resolvemos escrever uma história juntas. Certo dia ela me contou sobre o cupido e as almas gêmeas, achei tão lindo, pensa bem: um cupido tem a missão de juntar dois corações em um só. Mal sabia eu que me tornaria um desses seres alados e atrevidos.

Eu já havia percebido, desde o primeiro dia em que ele pôs os olhos nela. Ele suspirava tentando ser discreto, mas discrição não era algo que ele dominava, pelo menos eu conseguia perceber, acho que é meio coisa de poeta sabe? Poeta tem mesmo essa mania de ficar observando tudo. Percebi logo de cara que ele estava caindo de amores por ela. Então tive a bela missão de ser cupido e acho que até me saí bem.

Confesso que virei um cupido um tanto doido. Asas? Só as da imaginação. Flecha? Palavras apenas. Ela achava que não, que era apenas imaginação minha. Mas aos poucos eu fui convencendo-a de que ele estava sim apaixonado por ela. E não é que deu certo? Ela criou coragem e mandou uma mensagem a ele, confessou que sentia algo que ela nunca antes havia sentido. E ele correspondeu. Eles conversaram por uma semana e ele lhe contou que havia sonhado com o nome dela, grafado em uma árvore. Depois se encontraram pessoalmente e tudo aconteceu naturalmente.

E eu fiquei feliz em saber que almas gêmeas e cupidos realmente existem. E que o amor é mesmo clichê, cheio de frases feitas, de palavras ridículas e melosas. Se não fosse assim não seria amor.

Ana Luisa Ricardo
Enviado por Ana Luisa Ricardo em 10/09/2011
Reeditado em 10/09/2011
Código do texto: T3210804