Verão, calor no coração

Ah, o Verão! A única época do ano em que você já sai do banho meio suado. O calor é mesmo de derreter miolos. Os dedos incham, a sede aumenta, às vezes é desconfortável ficar abraçado. Mas dá vontade de ver o mundo, principalmente se for para caçar uma piscina ou um mar mais ou menos gelado.

A sensação é de liberdade. Principalmente aqui no Canadá, onde somos reféns de um inverno dois meses mais longo do que o tolerável. Convenhamos, frio demais vai causando uma rejeição natural ao ar livre. O ideal seria hibernar como ursos, ficar recluso debaixo das cobertas, agarrado com alguém. Mas quando o sol é o rei da estação, todo mundo quer brilhar com ele na rua.

Verão lembra férias de infância, praias paradisíacas, piqueniques na proteção de uma sombra, relaxar na rede para curtir a brisa, acampar na floresta, deitar na grama à noite para espiar as estrelas. Ninguém quer saber de paredes, limitações ao espaço que ocupam. Até os restaurantes abrem suas portas, porque as pessoas anseiam pelo prazer de ocupar mesas nas varandas.

Quando luvas e camadas espessas de roupa dão lugar a bermudas e shorts, a população fica menos elegante e mais... calorosa. Os rostos vão perdendo a palidez e ganhando um tom alegre, do tipo que toma uma cerveja bem gelada no bar da esquina enquanto conta piadas. A pele parece que reage com as temperaturas altas e deixa o povo com um semblante leve.

Essa época do ano remete à geração saúde. Mais saladas e menos espaguetes. O mundo recebe uma enchente de ciclistas, patinadores, skatistas. Vê-se um mar de pessoas fazendo jogging em parques em vez de um solitário correndo em um shopping no meio de gente que está admirando vitrines. Para colocar um biquíni, tirar a camisa, muitos vaidosos por aí ganham força de vontade para investir na barriga lisa. Transborda-se disposição.

Verão só dá preguiça se for para cochilar em um finalzinho de tarde com o ventilador soprando na nuca. Meio desleixado, talvez. Mas é que o cenário realmente não é sofisticado como fondue de chocolate e vinho, a luz de velas. É mais a espontaneidade de ligar para o amigo e montar um churrasco, contar até três e se jogar de um píer na água, pôr óculos escuros, uma roupa descolada e competir com o tempo para tomar o sorvete antes ele derreta.

Inverno é aconchegante. Verão é festa! Em todo canto dá para encontrar um clichê por aí: casamento na praia, paixões relâmpago, pagode com caipirinha, água de coco, vestidos micro-curtos, quarentões bancando o Don Juan em carros conversíveis, pimpolhos brincando de frisbee.

Tem também o calor infernal, gente reclamando da temperatura no Facebook, o olhar meio cansado depois de o corpo suar o dia todo nos “uniformes-prisões” de trabalho. Mas quando o sol brilha forte, seu melhor efeito é um mundo mais colorido, dinâmico.

Neve tem lá seu charme, entretanto, depois de um tempo, branco demais é simplesmente entediante. Não tem jeito, meu habitat natural é o Verão. Sem armaduras de lã enroladas no meu pescoço ou botas de couro escondendo meus pés estranhos. Gosto de ver gente na rua, sentir a descontração no ar. Explorar meus dias com as pessoas derretendo, verdade, mas com o calor também aquecendo suas emoções.