Apenas Amigos

Amigos são tão importantes em nossa vida que por eles fazemos o impossível, inclusive ocultar sentimentos que vão além da amizade. Eu não pude fazer isso e quase pus fim a nossa história. Uma história vivida por mim, apenas, mas que você é parte dela: a melhor!

Se fosse capaz de amar sem fazer denúncias, sem alarde, ou declarações, certamente o teria poupado de muitas situações desconfortáveis, em que forcei a barra com anseios e descontroles emocionais só meus.

Recusando-se a me dar uma chance, você se fechou aos meus desabafos. Declarei o que tinha que ser declarado, com todas as letras, na maior simplicidade possível e, como era esperada por mim, sua reação evidenciou uma fuga. Por um lado era como se eu nada importasse, mas, pensando bem, existia o risco, por isso você se distanciava, assustado. Esse seu medo aparente, de certa forma, alimentava a minha esperança da conquista.

Às vezes me sinto desmoronar com a sua frieza. A indiferença com que me recebe faz de mim uma pessoa sem ânimo que, de tanto ser maltratada, entende que a dignidade precisa ser mantida. Insistir num amor impossível é fortalecer os fantasmas, tornando maior a desilusão.

Não vivi nada mais triste do que deter em meus braços o corpo do homem amado, sem poder sentir dele o gosto; sem poder render-me ao amor num encontro de prazer e felicidade infinitos. Também tive que me contentar com o prêmio de ganhar no rosto e nas mãos, intensamente desejados, quase suplicados, os beijos que sonhei para a minha boca: “que fantasia louca...”

Estaria mentindo se dissesse que não sou feliz por ser sua amiga, mas o sentimento que ultrapassa a razão, mais contente me faria se pudesse ser nutrido, intensificado, e se ganhasse espaço. Fantasiar uma amizade quando o desejo é o da entrega, exige de mim um esforço fora do comum, pois o que eu precisava era viver o sonho de ser sua.

Nossos destinos não se cruzaram a toa. Mas eu não encontro explicação para tantos desencontros, uma vez que nossos momentos são distintos. Há uma distância entre nós, um abismo que nos separa e, mesmo você estando a passos de mim, não consigo alcançá-lo.

Amigos, então!

Publicado no Jornal O Povo, edição de 19/03/11

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 12/09/2011
Reeditado em 14/08/2013
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