Uma mística para a juventude

Conversando com um amigo no último final de semana, ouvi dele certa insatisfação em frequentar a faculdade. “Ah, eu já não aguento mais ir pra lá, e olha que ainda falta um ano e meio...”. Lembrei-me de meus tempos, e disse que também estive um pouco insatisfeito no início, mas que depois do quinto período - a metade do curso - passaria muito rápido. Ele concordou: “É, todo mundo diz que depois do quinto período passa mais rápido”. Quando era adolescente diziam que minha vida passaria como um trem-bala após servir o Exército. Não entendia muito tamanha negatividade, como se a vida fosse uma coisa assim, tão ruim a ponto de eu agarrá-la o quanto antes pois poderia fugir por entre os dedos das mãos. Mas os adultos têm, com certeza, certa propriedade no que falam, principalmente os que não aproveitaram a vida.

Eu acho que a vida passou mais rápido depois dos dezoito do que a faculdade a partir do meio do caminho. Não estou fazendo proporções matemáticas - o que não caberia - mas a sensação de perda de tempo é maior. Há diferenças no relacionar-se com a vida entre a fase adulta e a juventude. Não é preciso entrar em detalhes, e mesmo quem ainda é jovem ou não tem família para sustentar com o próprio trabalho pode ter alguma ideia das limitações pelas quais uma pessoa comprometida com o sustento alheio deve passar. Ocorre que o jovem pode, também, distrair-se e ver passar batido uma época de tanta beleza mas também de responsabilidades, senão vejamos: É na juventude que acontecem decisões importantes para viver nas décadas seguintes, seja nas amizades conquistadas como na profissão escolhida; os amores, dissabores, favores (só para poetar, mas tem sentido); a família, com suas qualidades e defeitos; e o caráter que nesta época vai tomando forma e se consolidando. Tudo isto faz parte da vida e o jovem não pode ser alheio a estes acontecimentos, que acontecem, também, na primavera de toda e qualquer existência.

Eu não creio que os tempos modernos sejam para os jovens melhores do que os passados. No máximo são iguais. Se por um lado temos a tecnologia que facilita os contatos, proporciona algum conforto em casa, permite crescimento profissional e mais alguma coisa, por outro temos uma sociedade dominada pela técnica e pelas metas, pelo consumo e pela concorrência, que vem fazendo do ser humano um mero objeto, um número a mais nas estatísticas. Perde-se a própria personalidade por um emprego, um cargo, um alto salário. Perde-se amigos.

Então eu acho que o jovem de hoje não pode abandonar algo fundamental para a vida de qualquer ser humano: Um momento de isolamento, por menor que seja, para refletir sobre a caminhada, sobre a sua vida. Olhar para dentro de si e questionar se é marionete ou se é o condutor da existência; Meditar sobre o futuro, sobre o que está fazendo para escolher uma atividade prazerosa e satisfatória; Pensar na família, em suas responsabilidades; Sobre o que é próprio a esta época: namoro, amizades, diversões, estudos... como estão atuando? Se são responsáveis ou estão levando “com a barriga”. Enfim, exige-se do jovem, mais do que nunca, uma abertura ao heroísmo, de forma a recusar o status de rebeldia e irresponsabilidade, e abraçar o papel de ator principal da própria vida, pois o que vem chega rápido e na maioria dos casos não dá para consertar.