MEU PRESÉPIO ERA BONITO!
Tomei a caixa que continha o presépio, guardada há um ano em um canto do armário, e fui tirando de lá as peças, com muito cuidado, para que não se quebrassem.
Fui tomada de uma alegria infantil, a mesma que me animava quando ajudava meu pai a montar os enormes presépios que construía, no meu tempo de criança.
Meu presépio era bonito, composto por imagens grandes, pintadas em branco e detalhadas em ouro.
Aqueles pequenos pacotes embrulhados aguçavam minha curiosidade e impulsionavam-me a adivinhar, pelo tamanho e peso, quais as imagens contidas dentro daqueles velhos pedaços de jornais amassados.
Limpava com carinho cada peça e colocava sobre o aparador de vidro, situado defronte do enorme espelho que cobria a parede principal da casa.
Uma cortina de luz branca, colocada atrás das imagens, e um jogo de lâmpadas sobre o vidro em que as figuras se apoiavam, criava efeitos maravilhosos, pelos reflexos que causavam. Fiquei a observar, encantada.
Enquanto admirava, pousei meus olhos na meiga figura de Maria. Tão jovem e tão forte! Tão menina e tão mulher!
Como deve ter sido difícil para ela, uma adolescente da antiga Galiléia, aceitar os desígnios de Deus! Comprometer sua reputação, num tempo rico em preceitos morais, prevendo a pressão que sofreria pela sociedade, família e comunidade Cristãs da época; o repúdio e descriminação que sofreria até que entendessem a relação desse nascimento com as escrituras.
Continuei a olhá-la fascinada. Irradiava tanta paz, apesar dos sofrimentos passados. Agradeci, em muda prece, esse seu desprendimento das coisas da terra e aceitação das coisas do céu, pois isso nos proporcionou o nascimento do filho de Deus, o Salvador.
Olhei para a manjedoura, decorada em ouro. A figura daquele pequeno menino, deitado ali indefeso, fez-me lembrar sua dolorosa trajetória em vida, e meu coração se entristeceu ao constatar o lado vil da natureza humana.
E aquela cena bucólica encheu meu coração de saudades: da casa da minha infância, da família reunida em redor de um presépio que crescia a cada ano em tamanho e em novos elementos: rios, lagos, árvores, trem. É, trem e presépio! Uma perfeita união para meu pai.
E as luzes continuavam a piscar, e as lembranças a voltar, e os cheiros a perfumar a casa, e as cores a iluminá-la, e a alegria do espírito de Natal a invadi-la.
Como era bom olhar aquele presépio e saber que o menino Jesus tornou possível a harmonia e a paz entre os homens; os sonhos e a felicidade.
Não sei quanto tempo fiquei ali, com certeza o necessário para saber que eu o recebia com as honras que lhe foram negadas em seu tempo.
Meu presépio era bonito, composto por imagens grandes, pintadas em branco e detalhadas em ouro.
Rosemarie Rossi