Crônica ligeira de Ponta Grossa

E como não há de ser ligeira, se passei lá menos de meio dia? Saí de Curitiba ainda pela manhã. Um professor me cedeu a sua mãe, que morava em Ponta Grossa. Passei lá para almoçar. Era uma católica fervorosa. Seu filho é um ateu militante. Ela não parava de conversar. Eu comia devagar, e ela perguntava se havia algum problema com a comida. Disse que eu lembrava o seu filho há uns vinte anos. Eu sempre lembro alguém, já reparei nisso. Sai de lá e fui para a Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Era uma quarta-feira à tarde. Fazia primavera nos Campos Gerais. Eu estava lá porque, teoricamente, possuía uma teoria. Ponta Grossa juntou uma porção de pessoas com teorias e as colocou para teorizá-las. Era, em suma, um encontro de jornalismo. Eu tinha uma teoria, mas tão frágil que corria o risco de ser jogada fora ao primeiro olhar de uma pontagrossense. Como isso não aconteceu, dei uma chance aos estudos científicos.

Falei sobre a crônica – bem se vê que é uma obsessão minha. Dizia eu que alguns classificam a crônica como jornalismo e outros como literatura, mas que na verdade ninguém consegue explicar coisa nenhuma. Ou melhor, isso foi o que eu quis dizer. De repente, um professor achou necessário me dizer que essa divisão não era importante. Bolas, eu já sabia disso. Era inclusive o que eu tentava mostrar. Também naquela cidade as pessoas não se compreendem, afinal. Respondido o professor, voltei a me sentar. Fiquei ali durante toda a tarde, vendo outras pessoas serem sabatinadas.

Em seguida, sai dali e fui comer um bauru perto da Universidade. Estava cercado de pessoas acadêmicas. Elas conversam sobre linhas de pesquisa como quem conversa sobre futebol. Abocanham baurus falando em teorias do jornalismo. Eu estava com fome e falei pouco – o que eu faria mesmo se não estivesse com fome. Mas achei o ambiente agradável: nerds para todos os lados. Ali, eu poderia passar despercebido. E se, naquela lanchonete, eu tivesse uma teoria grande e revolucionária, eles me ouviriam com muita atenção. Submeteriam os meus argumentos a todo um ritual de validação científica. E me ajudariam a formular uma metodologia de pesquisa. Senti-me em casa. Na UEPG, meus amigos, você pode falar sobre o que quiser – até mesmo sobre crônica – e as pessoas irão prestar atenção em você.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 29/09/2011
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