HISTÓRIA DE PESCADOR

Era o grande momento da carreira. Afinal, todo bom profissional que está entrando no mercado quer mostrar serviço e um grande resultado na estréia fica marcado no currículo. O plantel chegou cedo no local da competição, para fazer o reconhecimento do terreno. Até um astrolábio foi utilizado para uma orientação mais detalhada. O time parecia bom, mesclado entre experientes e veteranos estava até animado. Na verdade, não deu para arranjar nada melhor, pela pouca grana liberada pela diretoria o grupo seria aquele mesmo. Nem o reumatismo de um dos participantes era problema para a competição acirrada que viria três dias depois.

O treinamento foi árduo. Acordar cedo, tomar café, ir devagar ao local de treino para evitar contusões, um bom alongamento, uso do protetor solar(o câncer de pele anda solto) e começavam os trabalhos. Após umas três horas de labuta extenuante, aos berros do treinador cheio de vontade, o elenco se aquietou à sombra generosa de uma palmeira e aos primeiros goles de uma loira gelada se dispuseram a relaxar. Treino moderno e nova filosofia para arredondar, lapidar o elenco.

E foram três longos e exaustivos dias espairecendo à sombra gostosa, ainda agraciada pelos ventos alisios que teimavam em arrancar as vestes das torcedoras mais eufóricas, as chamadas maria carretilhas, que todos confessavam eram um incentivo à parte. Só mesmo muita vontade de ganhar o disputado troféu, mantinha aquele grupo tão unido. Os discursos estavam afinados e em uníssono podiam se resumir nisso:

- É, vamos dar tudo de si e seguir as orientações do professor. Graças a Deus.

Aplausos. Que entrevista. Era o grande ídolo do time (Luizito) .

Experiente, já enfrentara vários adversários valorosos e vinha como grande sensação mais uma vez.

Naquele dia, até o sol parecia ansioso, pois acordara mais cedo pegando a todos de surpresa.

- Culpa do despertador. Bradaram alguns.

A velha estrela já começava a esquentar, talvez para apressar os mais preguiçosos. Casa cheia. O treinador cheio de marra passava suas derradeiras orientações. Aos olhos dos espectadores mais inocentes, aquele era o cara. Quem sabe o comando da seleção não estivesse precisando de um desses para substituir o Manco Meireles. O espetáculo começou bonito, com arremessos precisos riscando o ar. Era um tal de OOOOOHHHHH prá lá e OOOHHHHH prá cá, em cada lance. Até uma ola foi ensaiada. Estava bonito de se ver. Mas eis que após os primeiros minutos, enquanto os nervos se assentavam, o adversário se fez impiedoso e mandou ver. Foi uma goleada. A torcida adversária já gritava olé. Wilderico tentou de todas as formas: 4 4 2, 4 3 3 e nada. Até um 4 5 1 foi de improviso. Mas não deu. O zero teimoso só saiu do placar após um arriscado lançamento que quase atingiu a sogra do Pantico. O anzol passou raspando a orelha da velha arrancando seu sombreiro. Quase a danada perde metade das fofocas ficando sem sua orelha de abano.

O campeonato de pesca foi um fiasco. Depois de muito alcool, pelo menos a cerveja estava descendo redonda e estava geladíssima. A equipe só conseguiiu pegar duas míseras piabas. Muito pouco para tanta pompa. As equipes de outras chaves(estilo copa do mundo) estavam fazendo seus arremessos até de costas. Os anzóis dispostos em uma fileira interminável(4 5 5, 3 5 6, 9 7 4), mal caiam na água já vinham apinhados de cangulos, pargos, tainhas, guaiubas, ariacós. Era uma festa. Wilderico p... da vida não entendia porque os danados dos peixes sequer beliscavam a isca dos seus pupilos. Nem uma sardinha. Parecia que eles tinham alergia ao camarão. Um problema de garganta, talvez. Não sabia do segredo da isca adversária. Faltou um espião. Nem que fosse um acará bandeira para se infiltrar no treino do inimigo.

Na entrega das medalhas, Wilderico já havia afundado literalmente na danada(uma serrana), para afogar as mágoas e esquecer este campeonato que se foi. Não, não, a serrana não era uma morena vinda das bandas de Maranguape ou Aratuba, era uma velha cachaça guardada a sete chaves para comemorar a vitória. Quem sabe na próxima competição, quem sabe.