Explode Coração
                                                      
 
                               Cora Rónai  lembrou hoje,  no jornal,  o que estamos sempre falando sobre a crônica.  É o tal negócio,  estando há algum tempo batalhando  na dificílima arte de se fazer uma crônica, sabemos que chega um dia em que erramos na dose, assim como a  cozinheira erra no sal. Pois é, amigos, hoje, salguei  minha crônica. E retirei o texto, que estava até brincalhão, mas com um toque um pouco duro com a juventude. Foi aí que botei sal   a mais.
                               A nossa querida Cora Rónai nos diz: “às vezes, a  gente puxa um tema complexo imaginando que vai dar panos para as mangas, e os leitores passam batido; e às vezes, a gente puxa o fio de um tema singelo e recebe uma resposta extraordinária”.    
                               Pois a nossa cronista, semana passada, falou do barbante e do papel de pão. Recebeu uma enxurrada de e-mails de pessoas contando lembranças maravilhosas sobre o barbante e o papel de pão.
                               Hoje, cheguei a publicar uma crônica longa, coisa que não costumo fazer. E achei que poderia analisar as razões porque não vemos hoje uma juventude engajada numa luta para melhorar o mundo.
                               Cheguei a recordar que os moços da minha geração para trás eram mais dispostos a sacrifícios, a lutar por uma boa causa. Em resumo, havia um idealismo  enorme.
                               Contei até que costumava acordar sempre disposto a lutar por uma causa que fosse maior que eu. Foi a época dos filósofos  engajados na política. Sartre foi um desses. Líamos com avidez seus livros. Sua companheira Simone de Beauvoir, uma líder feminista fantástica.
                               Toda essa efervescência desapareceu e deu lugar a um marasmo  estranho, pelo menos para mim.  E sentimos o jovem de hoje meio frio, sem esse élan a que estávamos acostumados.
                               Parece que o jovem, por algum motivo ainda não muito claro, congelou suas emoções.  Conversei  ontem com um amigo bem mais  novo que eu.  Ele botou a culpa na minha geração.  Teríamos passado a ideia de que o mundo não tem jeito mesmo e que, portanto, cada um que cuide de si.
                               Já o maestro Carlinhos da minha cidade vê no avanço da tecnologia o motivo para a mudança de comportamento dos jovens.  A tecnologia teria tornado o jovem pragmático, muito amante da máquina.  Com isso perdeu aquele sentimentalismo tão próprio dos mais velhos.
                               Por isso, na minha crônica salgada estava propondo a criação de academias de dança e canto, onde existiria uma matéria básica,  que eu batizei de Interjeições. A ideia era atenuar um pouco a frieza e a apatia da era tecnológica. Assim, não veríamos tanta gente de olhos fixos nos seus tablets, Ipod, Ipad e outro ais. Passariam a olhar um pouco mais seus semelhantes.
                               Brincando, com o intuito de fazer aflorar a emoção soterrada pela tecnologia, eu terminava a crônica excluída da seguinte maneira:
                              Haveria uma disciplina básica e a sua reprovação impediria o ingresso do aluno no ano seguinte. O nome da disciplina: Interjeições!  A turma seria obrigada a aprender  Oh!, Ah! Viva, Uh! Upa!,  Avante . Enfim, todas as interjeições existentes e imaginárias. E não só isso, vivenciar essas emoções. As interjeições teriam que aparecer na vida prática do aluno.  Na academia, toda manhã os alunos cantariam obrigatoriamente o “Cielito Lindo”, para fixar bem o ai, ai,ai,ai...  Esse ai, sim, a ser bem aprendido.
                               “Macacos me mordam”, que por sorte  é uma locução interjetiva,  se eu não iria conseguir virar esse jogo e  ver  a novíssima geração  ARRIBAR com muito mais  emoção.
                               E  esta Academia bem que poderia se chamar “EXPLODE CORAÇÃO”.