ÍDOLOS

Tudo o que eu precisava era de uma informação. O sujeito estava de costas para mim e toquei o seu ombro para perguntá-lo algo a respeito daquela fila. Primeiro começou limpando o ombro como se eu estivesse sujo, mostrando todo o seu desagrado. Já estava começando a desistir do pedido de ajuda, quando finalmente se virou para mim, me olhou com aquela cara de “Ai, meu Deus, mais um!” como se eu estivesse querendo autógrafo. Nem reconheci o cara. Mudei de pessoa e uma senhora muito polida me satisfez a dúvida. Depois que saí um rapaz (que teria acompanhado a cena) me seguiu e disse que eu estava falando com nada mais nada menos do que com um famoso. Mas ele queria mesmo era ser solidário a mim, também achou o cara meio pedante, petulante, arrogante. Eu fiquei pensando: Famoso? Numa fila? Uai, tem algo errado ou não é Brasil!

Ídolos é melhor não conhecê-los pessoalmente, alguém já disse isto. A começar que não são unanimidade. É ídolo para uns e para outros, não. Depois, não quer dizer que vamos nos comportar como tietes na sua presença. A menos que exibam uma aura ou pó cintilante que avisem logo possuir brilho a qualquer distância ou um magnetismo que nos mova involuntariamente do lugar onde estamos em sua direção para beijar-lhes as mãos ou fazer uma reverência de súditos. Perdem a oportunidade de conviver no anonimato. Se o sujeito sai na rua e não é reconhecido, se deprime. Se for, empina o nariz e dá rabada na sua legião de fãs. E ainda vai para a imprensa reclamar do assédio. Imagino que para esses deve ser muito difícil viver como uma pessoa normal. As pessoas normais já estão se achando...

Os ídolos são para a convivência distante. Conhecer um ídolo pessoalmente pode quebrar todo o encanto, uma vez que as pessoas são comuns quando não estão de máscaras, rótulos, flashes ou holofotes, palcos ou câmeras. E o comum não encanta ninguém que não esteja procurando algo mais do que uma relação cordial e amistosa. Imagine um herói fazendo as suas necessidades mais fisiológicas? Eu em criança pensava que miss não soltava gases. Meu pai afirmava que sim, só que tinham cheio de Cashmere Bouquet. Eu acreditava piamente. Pensava que um galã não podia jamais ter mau hálito. Fiquei tão decepcionado quando li o Richard Gere dizer horrores de atrizes hollywoodianas sobre mau hálito e que era custoso fazer cenas de beijo. Não citou nomes, mas quem assistiu a uma boa parte de seus filmes românticos sabe que ele só fez par com lindas beldades do cinema.

O que mais me encanta nesses tipos de celebridades é que a gente não pode nem chegar perto deles, a segurança não deixa, graças a Deus.

josé cláudio Cacá
Enviado por josé cláudio Cacá em 07/10/2011
Código do texto: T3262400
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