Em outubro (1)
 
 
Em outubro coisas boas aconteceram. Minha mãe fez 87 anos e no mesmo dia, Maria Fernanda, a filha de meu sobrinho Tiago foi batizada, lá em Três Corações, na Igreja de Santa Tereza de Ávila. E depois todos fomos almoçar juntos, famílias da mãe e do pai da criança. Só lamentamos a ausência de D. Zenita que não foi porque não tem mais cabeça. Isso é o que ela diz para justificar a sua não participação em eventos familiares fora de casa. Ela não foi e perdeu porque durante o almoço foi servido o seu prato predileto: torresmos, daqueles bem sequinhos, estalando na boca. Meu amigo Jarbas me mandou umas receitas para fazer na panela de pressão e entre elas uma receita de torresmo que ele disse, é o suprassumo do saboroso. Penso que uma pessoa quando faz 80 anos tem direito a tudo: direito de não ir onde não quer, direito de comer o que quer, mesmo que seu médico fique escandalizado.
 
Em outubro também sempre chega minha amiga Rubi, que mora em Recife. Ela aproveita a série de aniversários em família para vir e assim rever mais gente que gosta de rever. Ontem à noite fomos a um aniversário (sua prima), hoje sua irmã e na semana que vem outra irmã apaga velinhas.
 
Em outubro também pudemos reabrir a nossa Fábrica de Pães, Padaria Rocha, que funcionou precariamente durante as últimas semanas. Dia sete as pessoas puderam ver o resultado da reforma pela qual passou. Ficou linda. Quando as portas da frente se abriram e as pessoas começaram a entrar foi um espanto só. Ohs! e Ahs! de admiração, porque ela ficou muito bonita. Valeu todo o trabalho das últimas semanas, cada minuto. Uma freguesa disse: Parece que a Padaria está sorrindo para nós! Sim, realmente é o que parece porque ela está clara e luminosa, com tudo absolutamente novo e embora tenhamos mantido a disposição tradicional a impressão que passa é que tudo ficou mais amplo. Ainda vou escrever mais sobre ela porque em Lavras ela é um verdadeiro ícone, um dos poucos estabelecimentos tradicionais que não engrossaram a lista dos já teve. Um jornalista procurou-me essa semana, quer escrever a história da Padaria e eu pensei: será que mais uma vez vamos utilizar o velho ditado?/Casa de ferreiro espeto de pau. No dia seguinte após a reabertura, estando lá para dar as boas vindas aos fregueses observei um senhor do outro lado da estufa de salgados olhando com um jeito bem parecido com o do Pongo, meu cachorrinho, quando quer alguma coisa. Fui até ele que pediu um cafezinho e após ter providenciado que seu pedido fosse atendido saí para fazer outras coisas. Quase meia hora mais tarde voltei e ele ainda estava lá, com o mesmo jeito perdido, mas se encontrou e se aproximou de mim. Perguntou-me se eu era a dona e com a minha afirmativa disse que passando pela rua achara tão bonita que entrara porque precisava me dizer uma coisa. Sou caminhoneiro, ele falou, e estando parado com meu caminhão em um Posto, em São Paulo, um senhor bem vestido saiu de um carrão e se aproximou de mim. Eu observei que ele tinha olhado a placa do meu caminhão e por isso não me espantei quando ele me interpelou perguntando se eu era de Lavras. Eu falei que era e então ele pediu notícias da cidade, onde tinha estudado, mas queria saber principalmente da Padaria Rocha, onde ele havia passado os momentos mais felizes aqui. O papo continuou por algum tempo, mas para mim poderia ter parado ali mesmo que eu já estava alimentada para dar o ponta pé inicial na série de histórias ou causos que acabarei contando sobre este lugar, que sempre foi o alimento do meu corpo e que também propiciou o alimento do meu espírito.