Sonhar e Passear
Hoje ao sair de casa me dirigi à casa de um velho amigo. Contemplei a Rua Desembargador Trindade longa tal como a nossa jornada nesse mundo. A principio, debaixo das frondosas árvores que ainda permeiam as calçadas surge a memória de uma juventude não tão longínqua na qual só me preocupava com o dia de hoje. Estudava com a tranqüilidade de um monge beneditino.
Na paz silenciosa com poucos carros passando observo tantos contrastes. Típicos para análises sociológicas, poéticas e chorosas... Eis arranha-céus que nunca acabam arranhando minhas vistas. Eles de fronte a simples casas com art-decô. Palacetes ora abandonados, ora regidos por senhoras idosas com companhias ou das irmãs terciárias carmelitas ou de gatos angorás que vigiam preguiçosamente a porta da casa. Um primor, uma paz simplória e ininteligível. Mas paz... Prestes a ser perdida por nossas velocidades. Descrevê-la eu não sei como.
Apresso um pouco o passo, vejo moças em lojas opulentas, vazias e fúteis tais como nossos anseios muitas vezes, como nossas paixões. Moças que num final de manhã de sábado loucas a sair perdem-se numa vida miúda. Porém, uma vida pulsante.
Diante um condomínio fechado no qual reside políticos regionais, dentre eles o próprio prefeito se não me engano, reina soberano com uma placa de vidro brilhosa, sobre um velho restaurante do qual nunca aparecia uma alma além a do único garçom visível. Hoje, nem a alma do garçom presente estava. O restaurante mudou de local ficando o prédio vazio. Vazio como a vida de alguns mendicantes ”residentes” dormindo no seu chão frio.
E passam alguns mais carros quebrando a monotonia. Minha mente no fim da rua dirige-se ao Açude Velho. Belo, mas desperdiçado pelos homens tais como o desvario do autor destas linhas...