Se pudesse classificar angústias urbanas, com certeza elegeria a tristeza do desamor como uma das piores e mais devastadoras de todas. Simplesmente ela acontece independente do local e da companhia, soa controverso mas alguma vez na vida, caminhando à parte no meio da multidão esta sensação de estar flutuando no vazio bateu forte.
É como o casal silencioso que senta-se no sofá em frente à tv, cada qual perdido em seus pensamentos olhando o tempo passando lento... dolorosamente solitários ainda que se dêem as mãos, não estão juntos. Nunca estiveram tão sozinhos e sabem disso,mas temem o desfecho e nada dizem.
Ou a mãe que vê o filho sair todas as noites retornar na madrugada, remoendo as horas e contando os minutos. E quando finalmente ele retorna, chega alterado, virado do avesso, maltratado pelo vício e ainda por cima reclama da preocupação e amor. Mas ela não se importa, dia apos dia espera ansiosa escutar os passos tortos da cria sem prumo.E respira aliviada quando soa a batida da porta.
Há os que buscam nos bares companhia ainda que passageira, puxam assunto com qualquer um e em poucos minutos são parte de rodinhas de desconhecidos.
Solitários por imposição ou temporários que me perdoem, mas quando eles se desesperam não há quem segure . Alguns ficam horas nas filas do banco e das lotéricas porque sempre tem alguém disposto a trocar uma frase que seja, eles estão ávidos por atenção e companhia. Na guerra por um bom papo vale perturbar a caixa do banco, do supermercado, da farmácia e deixar os que aguardam a vez furiosos.
Estar sozinho é inevitável e ainda assim é preciso encontrar o fio da meada e desenrolar este carretel intricado, que começa na infância e nos acompanha até o final dos dias. Desatando os nós que formamos quando nos perdemos e damos mil voltas em círculo, teimosos em seguir adiante ignorando os sinais da vida que nos acena com o novo.
Eu compreendo a dor do silencio, mas gosto de identificar todos que perdi, enquanto o som altíssimo dos meus lamentos esconderam as maritacas ou as risadinhas das crianças na calçada brincando de patinete, ou o mar batendo nas pedras, talvez a chuva no telhado.
Quem sabe seja uma forma de compensar, mas a realidade é que o barulhinho do teclado batendo as letras é reconfortante. Ainda que não passe o afeto físico, transforma o pensamento em expressões, traduzindo o que o coração sente , compartilhando idéias.
Existem dias em que estamos aborrecidos com a própria existencia, acordamos mal lemos todos o jornais e odiamos todas as notícias, zapeamos os dia todo e não achamos um filme bom na TV com duzentos canais. Paramos na frente do som e testamos todos os cds, sem ouvir nenhum até o fim, por fim chegamos a conclusão que não há um dvd que preste.
Tardes em que a porta da geladeira já range apavorada só com a nossa proximidade para mais um assalto, e não vamos fazer caminhadas ou academia só de pirraça.
Procuramos o gato de estimação e por fim descobrimos que ele fugiu pra cima da estante stressado.
Chega a noite e o celular está mudo, não tem programa algum interessante pra fazer na rua, ou seja, só nos resta reclamar e maldizer o final de semana perdido.
Pensando bem, quem curte cultivar a tristeza e culpar a solidão para se fechar em copas, vive perdido no mundo das maravilhas de Alice e nem percebe que quem mais se diverte é o chapeleiro louco.
Um solitário e divertido sonhador, cheio de tarefas, apressado, ativo e que faz acontecer.