Tragicomédia urbana

No mínimo foi engraçado. E constrangedor. Eu estava lá no Banco tentando entabular uma conversa séria sobre seguros, mas me peguei distraída, prestando atenção nos acontecimentos. Nem foi tão ruim assim porque quem me atendia também se distraiu com a cena.

Bem bonitão, o rapaz. Alto, vestido com a tradicional indumentária bancária, percebia-se claramente que ele ficaria bem melhor caminhando por uma praia. Mas estava ali, um dos gerentes. A mulher clamava por ele já há algum tempo, queria o gerente. Não sabia mexer com aquelas geringonças – máquinas, cartões, queria ajuda. Falava em voz alta, perturbava o mundo sussurrante dos negócios. Alguém foi chamá-lo e certamente ele achou que era sua obrigação atendê-la. Chegou até ela timidamente e polidamente. Sem mais nem menos, na maior das alturas ela pediu um beijo. Ele convidou-a para se assentar e ela respondeu: Só se for em seu colo. Ele, jeitosamente tentou conduzi-la até uma cadeira. Foi aí que a situação piorou – ela voltou-se para ele, entreabrindo as pernas e jogando o baixo ventre em sua direção. Incrível foi que ninguém riu de verdade. Só risinhos abafados. Só então dois guardas vigilantes se aproximaram levando-a até a cadeira, para que se assentasse. O moço bonito aproveitou a folga e saiu de cena.
Ouvindo os comentários, a chamaram de velha. Eu pensei e falei: nem deve ser tão velha assim. Ando pensando nisso com certa frequência – a pobreza envelhece. Ali estava ela, magra como um varapau, esticada com uma vassoura boa para limpar o teto, um pano marrom da cor de sua pele amarrado na cabeça, botinas velhas, meias vermelhas, uma saia rodada e mal ajambrada, mas batom nos lábios, brincos nas orelhas, anéis nos dedos... Não, nem devia ser tão velha assim... Mas parecia. Eu me senti triste por ela e grata por não ser eu. A miséria humana sempre me comove porque eu não consigo compreendê-la.