LOURENÇO

LOURENÇO

Que saudade do Lourenço!

O Lourenço foi um grande amigo e companheiro. Na minha casa, da área de serviço, ele acompanhava as minhas cantorias no banheiro e sabia de cor grande parte dos sucessos de Adelino Moreira.

Mas como foi que o Lourenço chegou à minha vida?

Havia um caminhoneiro que transportava madeiras de Mato Grosso para a empresa em que eu trabalhava. Um dia ele conversava com a rapaziada da loja sobre passarinhos e, como era um assunto que não era do meu interesse, eu ouvia calado, enquanto que os meus colegas solicitavam ao motorista que lhes trouxesse curiós, pássaros preto, etc. Em dado momento o caminhoneiro virou-se para mim e perguntou: - E você, não quer que eu lhe traga nada? Eu que nunca fui chegado a passarinho em gaiola, respondi assim meio duvidoso de que ele trouxesse: - Se você puder, traga-me um filhote de papagaio.

Alguns meses se passaram e eu até já havia esquecido o assunto, entretanto, eis que chega o caminhão trazendo uma gaiola com dois filhotes de papagaio, um para mim e outro para o filho do meu patrão, um garoto de uns treze/quatorze anos que tinha feito o mesmo pedido. Dos dois, um era bonito, bem emplumado, ativo. O outro, todo feio, de má aparência, devido às suas poucas penas, parecia não gozar de boa saúde. Estava na minha hora de ir almoçar. Como fazer, escolher o melhor e levar para casa? Preferi esperar e o garoto não fez por menos, deixou o pior para mim.

À tarde, assim meio sem graça, levei o Lourenço para minha casa. Minha mãe e eu demos a ele um tratamento supimpa e ele logo reagiu positivamente. O outro em poucos dias morreu.

O Lourenço cresceu, aprendeu a falar, cantar, assobiar... Minha irmã dizia que ele morria de rir e não achava graça, devido à aparência de zangado enquanto ele dava estridentes gargalhadas. Ele não aceitava que ela o acariciasse. Bicava a mão dela pra valer. Já a minha mãe ele aceitava, pousava em sua mão à vontade, contanto que eu não estivesse por perto. Quando eu estava, só eu podia chegar perto. Subia na minha mão, andava no meu braço, pousava no meu ombro e brincava com a minha orelha.

Verdadeiramente o Lourenço era meu amigo.

Um dia mudei-me para Petrópolis, ia morar num apartamento e não podia tê-lo. Deixei-o com uma senhora amiga de minha mãe que o levou para um sítio na Ilha Grande. Nunca mais eu vi o meu amigo. Entretanto, acredito que lá ele foi até mais feliz.

Gilson Faustino Maia
Enviado por Gilson Faustino Maia em 24/10/2011
Código do texto: T3295140
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