Que nem pinto em lixo...

Sexta feira, 21 de outubro de 2011: que dia!

Logo após terminar (afinal) a preparação de um documento imprescindível à aquisição de livros didáticos – trabalho que me ocupou por mais de mês – e ainda dizem que funcionário público não trabalha! – reparei no quadro ‘Estatísticas’ da minha página neste Recanto que o total de leituras ultrapassava a mirabolante e envaidecedora marca de dez mil acessos.

Ah, me esbaldei!... Fiz a festa: rodopiei, dancei e ri sozinha, e me cocei de vontade de contar a todo mundo...

Depois fiquei quieta, a pensar em quantos escritores profissionais, com obras e obras publicadas ‘de verdade’ conseguem ser lidos em tal dimensão, neste país com índices pífios de leitura, cuja média por criatura é de menos de cinco livros/ano, incluindo os livros didáticos, leitura obrigatória.

Aí, encarei uma realidade: são vários textos, e no Recanto das Letras é mais fácil a concentração em poucas páginas por vez - e com a vantagem de poder buscar outros gêneros e estilos (faço isso, confesso) - do que, no pouco tempo furtado ao trabalho (e outras atividades tão importantes quanto), ler um volume inteiro. (Além do mais, creio firmemente: livro de papel, com aquele cheirinho de tinta e trabalho de muitos, bem merece umas horas livres, uma rede no alpendre, e, como acompanhamento, vinho branco meio seco e salada de acelga, palmito, queijo da terra, manga verde, passas e molho secreto da Gina.)

Mas, deixando esses prazeres de lado, fiz umas continhas e o primeiro resultado me deprimiu: dividindo a (mirabolante e envaidecedora) quantia de acessos pela quantidade de textos publicados, estes não foram lidos sequer cinquenta vezes cada um. Outro resultado impactante: desde o início, em março de 2006, até este fatídico dia, a média diária de acessos estaciona em – pasmem! – cinco.

E, para completar (pois é, sou um daqueles tipos estranhos que preferem o estrago todo de uma vez), vamos à terceira relação entre os textos e os leitores: os comentários, tão esperados e que me fazem pensar em generosidade, beleza, mais poesia - e, por vezes, no que fiz de errado. E acho que ando, mesmo, fazendo algo errado: nem dez por cento dos leitores deixaram uma marquinha qualquer de sua disposição emocional após o exercício. Puxa vida, ou o pessoal que me lê é tímido, ou o que escrevo não é capaz de romper essa barreira – e texto assim nem merece ser lido!

Uma coisa leva à outra e fui contar os comentários enviados. O saldo foi positivo, viva! E, como busco o texto um bom par de vezes antes de comentá-lo (emoção, prudência e justiça podem conviver, sim!), leio e leio – diversos, díspares, muitos. E comento, comento, comento – não todos, pois há uns que não me invadem a alma; por esses guardo respeito, porque todos merecem (pois é, também sou daquele tipo meio interesseiro, meio abestado, que procura dar aos outros o que gostaria de receber) (talvez quem me lê e nada comenta também seja assim, ôba!).

A esta altura, minha auto-estima vinha se recuperando e tive uma ideia: considerei que os estilos literários que adoto – Contos, Poesia (rimada ou não), Prosa Poética, Humor, Crônicas e os indefectíveis e esparsos Pensamentos (excluirei as frases) – sejam ‘livros’; então o índice de leituras se elevaria de menos de cinquenta para mais de mil e quinhentos (geniais as coisas que fazemos para alcançar a felicidade, hein?).

Continuei com as contas, mas não deu para calcular a (mirabolante e envaidecedora) quantidade de alegria que sinto desde o começo, que se mantém que nem fogo de monturo, e que se acumula em progressão geométrica, só por causa desse povo maravilhoso que lê.

Então, aos que leem, meu mais profundo agradecimento e meu convite: vençam essa timidez! (rsrs); aos que comentam – e me deixando conhece-los um pouquinho, permitem que eu pratique um aspecto inerente e desafiante em qualquer relacionamento – meu respeito por sua generosidade e coragem e meu compromisso com o retorno da gentileza e da verdade. A todos, guardem também a certeza: este texto foi escrito para alegrar, da mesma forma que me alegrou cria-lo; ele é apenas uma forma bem singela de devolver presentes.

Ao Recanto das Letras, além de agradecer sua existência, declaro que aqui exercito minha loucura e minha lucidez (uma mais que outra, mas não direi qual) e que me tornei gente melhor, depois de habitar lugar tão limpo e democrático (igual, só a casa da tia Eudênia, aonde todos ainda vão – mas isso será outro escrito...)

E se alguém não sabe o que faz um pinto no lixo, explico: ele, absolutamente feliz, brinca.

Gina Girão
Enviado por Gina Girão em 24/10/2011
Reeditado em 01/10/2013
Código do texto: T3295656
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